Hélio Consolaro*
Dia 07 de setembro comemoramos a Independência do Brasil. Bem ou mal,
somos um país no cenário mundial, como não há ser humano perfeito, não existe também
nação magistral, deixemos de exigência que não podemos ter conosco mesmo.
A outra pergunta que fazemos nesse dia é se o Brasil é mesmo
independente. Nesse mundo cada vez mais globalizado, o conceito de país e nação
estão se enfraquecendo, perdendo o sentido. Mas como todo processo é
contraditório, há no seu bojo a valorização do local cada vez mais radical por
meio da cultura. Os sentimentos de etnia e tribo estão presentes.
Assim, neste 7 de Setembro de 2017 vou escrever sobre a
formação de nossa nacionalidade por meio da literatura brasileira. Segundo o
professor da USP Antônio Cândido, recentemente falecido com mais de 90 anos,
houve dois movimentos literários na trajetória de nossa história que se
preocuparam com o caráter brasileiro.
O primeiro foi o Romantismo, coincidindo com a formação da
nação brasileira. Muitos compatriotas da época nem sabiam que havia acontecido
o Grito da Independência, pois não havia comunicação entre as regiões
brasileiras. Cada uma se vestia, cantava, comia de jeitos próprios, esses
costumes que hoje damos o nome de folclore.
Entre a elite brasileira com sede no Rio de Janeiro, havia
poucos alfabetizados para lerem poemas e livros enaltecendo a nossa natureza e
elegendo o índio como herói de bom caráter, a exemplo dos cavaleiros medievais.
Nem por isso, a produção literária foi acanhada e ela repercutiu na formação da
brasilidade das futuras gerações, exercendo este papel até hoje.
O Romantismo, com José de Alencar, Gonçalves Dias, Castro
Alves iniciou um rompimento cultural com Portugal, inclusive no idioma, no
jeito de escrever. Meio tímido, ainda, mas presente.
O segundo movimento literário, conforme Antônio Cândido, com
caráter nacionalista mais consistente, foi o Modernismo que tentou abrasileirar
o português e conseguiu em anos posteriores. Afinal, aqui tivemos a
contribuição de índios, negros e imigrantes europeus na formação de nosso
português. Essa miscigenação linguística não poderia ser ignorada pela literatura,
pelos escritores.
Os modernistas, jovens filhos da burguesia paulista,
adotaram a antropofagia como movimento cultural para importar a vanguarda
europeia, ou seja, importar cultura e estilos literários, mas digeri-los com as
cores verde e amarela, não apenas reproduzi-los. A dupla Oswald e Mário de Andrade
foi a baluarte dessa proposta.
Apesar de toda a balbúrdia na política brasileira, ela faz
parte da construção de nossa nação. Há os apocalípticos que enxergam o fim do
mundo em tudo, mas se esquecem que a história de um povo é feita de conflitos.
E na literatura não é diferente.
*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Membro
da Academia Araçatubense de Letras.
Nenhum comentário:
Postar um comentário