AGENDA CULTURAL

7.10.17

Nasci pelado. Nascemos pelados. O nu é natural


Hélio Consolaro*

Eu nasci pelado, com tudo à mostra, nem por isso alguém disse que eu estava afrontando a moral e os bons costumes. Fui bem recebido.

Oswald de Andrade, poeta modernista, explica bem isso no seu poema: 
Erro de português

Quando o português chegou
Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de so
O índio tinha despido
O português.
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O homem ocidental encontrou aqui um povo sem roupa, que andava pelado porque não sabia que seu corpo era motivo de pecado. Como o índio foi vencido, dominado culturalmente, o português pôs roupa nele, cobriu as suas vergonhas (veja como o corpo, o templo de Deus, foi tratado). Então o corpo passou a ser coisa do diabo.

Agora, muito recentemente, a presença de um homem nu numa performance no Museu de Arte Moderna de São Paulo foi imensamente condenado pelos tarados, pedófilos, espectadores de filmes pornográficos e outros portadores de transtornos sexuais, pois quem vê o sexo com inocência, de uma forma limpa, não fica blasfemando diante do nu.   


Que usemos roupas, pois isso se consolidou, mas não façamos do nu artístico uma projeção de almas pecaminosas, com postagens nas redes sociais carregadas de distúrbios sexuais. Se Jesus voltasse, imagino o sermão que faria para tais moralistas, desvirtuadores de seu templo.


*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor.

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