AGENDA CULTURAL

28.2.18

Chupar ou comer a jaca. Ou, então, enfiar o pé nela.


Outro dia ganhei uma jaca de um amigo. Ele ficou sabendo de minha paixão por jaca mole, foi até o sítio do sogro para buscar um fruto. Jaca e melancia são parentes, enormes. Até dizem os piadistas que jaca e melancia são como mulher bonita, ninguém chupa sozinho. 

Os supermercados só vendem frutas que não cheiram e duram bastante tempo nas gôndolas. Até o tamanho da melancia está diminuindo, tirando-lhes também as sementes, são os frutos transgênicos.

Aquelas mangas do sítio, não se encontram em qualquer supermercado. A deliciosa manga bourbon apodrece logo, junta mosquito, cheira ao longe. Quando encontramos, custam muito caro.

Caroços de jaca
Assim acontece também com a jaca. Outro dia, um vendedor bem molambento estava parado com uma carriola cheia de jacas, pois nem ele sabia que existiam mole (chupar) e dura (comer). Não comprei, porque só gosto da mole. 

Tanto na palavra como no fruto, a jaca não fazem parte de nossa brasilidade, é uma fruta importada: Ásia, Índia. Andando no pomar, se o sujeito pisar numa jaca mole, vai poder dizer que "enfiou o pé na jaca", ou se fizer uma besteira na vida, vai usar a mesma expressão.


Jaqueira carregada de frutos enormes
Voltando à minha jaca, dada de coração, demorou para amadurecer, parecia um ovo encruado. Amadurece, não amadurece.  Até que o fruto se revelou mole, então, fui chupá-la. Uma delícia. Os caroços foram embalados em "tapawer" hermeticamente fechados para não cheirar na geladeira. Uma semana de jaca no almoço, jaca no jantar. E até houve gente que torrou as sementes.

A internet mente tanto quanto os raizeiros, vendedores de panaceias nas ruas e barracas da cidade. Qualquer coisa serve para tudo. Assim está a jaca, um santo remédio.

A jaca para mim é um alívio espiritual, mata aquela saudade do menino tabaréu do mundo rural onde vivi a minha infância. Pode ser um placebo, não importa, o que vale mesmo é aquela satisfação interior. 

VALOR NUTRITIVO DA JACA, LEIA CLICANDO AQUI 

*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor.   

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