AGENDA CULTURAL

23.4.18

A noiva com o negócio na mão


Hélio Consolaro*

A poetisa multimídia Luísa Romão esteve no Sesc Birigui explicando e declamando sua poesia. Ela é militante do slam, um jeito novo de fazer poesia em grupo, como se fossem repentistas urbanos em ação. 
Veja alguns espetáculos aqui: 
https://www.youtube.com/results?search_query=Luiza+Rom%C3%A3o

A questão feminina, a mulher como protagonista, faz parte de sua temática, podemos dizer no velho chavão que ela é feminista. 

Como boa artista, não tem medo do ridículo. Já pensou, uma atriz vestida de noiva ao pé da escadaria da Sé, em São Paulo, sendo filmada por sua equipe, assistida por um monte de homem, transeuntes, moradores de rua, tarados. Ela promoveu isso e apresentou o vídeo aos presentes no evento.

E mais importante, com o famoso e lindo buquê de noiva na mão, antigo símbolo das virgens. Então, a noiva, em vez de jogar o ramalhete inteiro para a multidão, começa a despetalá-lo. E para cada pétala jogada, grita um verso de denúncia de Luísa Romão.

Quando as flores se acabam, arrancadas uma a uma, resta um pênis de borracha na mão da atriz, também chamado popularmente de consolo, que é a estrutura do buquê e de toda aquela paixão da noiva. Qualquer semelhança da cena com as cerimônias de casamentos, não é mera coincidência; com uma diferença, o pênis é de cartilagem.     

Imagine, caro leitor, a gritaria daquele bando de machos. Aí, um sujeito da multidão gritou:

- Tire a roupa também!

A gritaria foi geral, o pedido em uníssono, todos eram noivos. A exemplo do que ocorreu na crônica de Carlos Drummond de Andrade denominada "Na Escola", na aula de Da. Amarilis, a democracia acabou. Ou seja, acabou a sacanagem.

Os seguranças recolheram a poetisa e a atriz ousada que morriam de medo, mas tremendo tiveram a coragem de dizer o que pensavam. A arte é feita de ousadia.

*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP 

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