Plateia presente |
No dia 19/05/2018, um sábado de manhã, das 10h às 12h, a convite da presidenta Yara Pedro Carvalho da Academia Araçatubense de Letras, a publicitária Cintia Brasileiro, com pendores para as letras, proferiu uma brilhante palestra a escritores e jornalistas sobre as escritoras araçatubenses.
A exposição oral foi na sede da AAL e baseada em seu trabalho de TCC de curso de especialização em letras no Centro Universitário Toledo - UniToledo - intitulado "Literatura feminina araçatubense: entre o lírico-sentimental e o amadurecimento da consciência crítica", cuja conclusão reproduzimos ainda nesta página, com linque para quem quiser fazer a leitura completa.
O trabalho esteve sobe a orientação do doutor em letras Tito Damazo, que também é escritor e membro da AAL.
Tito Damazo, Cintia Brasileiro e Antenor Rosalino (escritor e acadêmico) |
Arnon Gomes, Agatha Urzedo (jornalista), Cintia Brasileiro e Raquel Cândido (jornalista) |
Para quem envelhece, como este blogueiro, é gratificante ver uma nova geração surgindo com consistente vigor intelectual. Parabéns, Cíntia e Arnon.
*Hélio Consolaro, professor, jornalista e escritor. Membro das academias de letras de Araçatuba-SP, Andradina-SP e Itaperuna-RJ,
CONSIDERAÇÕES FINAIS
(Transcrição do trabalho)
Por meio de levantamento e de leituras interpretativas das obras, este artigo aborda a produção literária feminina de Araçatuba, contemplando o período entre 1980 e 2016. A pesquisa bibliográfica contribuiu com o registro de 71 títulos e suas respectivas autoras,realizando considerações analíticas do universo literário criado por mulheres, em 10 desses livros: O Alzheimer do vovô (2016), de Rita Lavoyer; A arca da bicharada Vol. 1 (1985), Larissa e as estrelas (2014) e Porta-retrato (1995), de Marilurdes Campezi; Instantâneos(1997) e Vinhos (2003), de Cecília Ferreira; Ciranda de Vidro (1998), de Cidinha Baract; Boinu (1994), de Lúcia Piantino; O diário de vó Lina (2011), de Emília Goulart; Os filhos de Moisés (2015), de Maria Luzia Vilela.
Detectamos que as escritoras araçatubenses escrevem sobre a cidade, família, sentimentos, experiências, memórias... Memórias que correm fluídas nos textos, embaralhadas nos tempos vividos que se fundem na emoção do recordar/viver. De modo geral, a ficção das escritoras araçatubenses possui uma linhagem humanista e particular, em que permanece uma paixão peculiar pela vida no interior e pelo ser humano em si.
Conforme se pôde observar nas obras femininas araçatubenses, é possível perceber no decorrer dessas últimas décadas, um aprofundamento da consciência crítica da mulher escritora. Uma consciência crítica não só em relação a si mesma, mas também à tarefa que lhe cabe desempenhar, tanto no âmbito da criação literária quanto no da sociedade em mudança. Detectamos essa evolução, mas ressaltamos que ela está acontecendo paulatinamente.
Há formas estereotipadas e de rasa estruturação narrativa em algumas obras, mas é possível perceber que está acontecendo uma ruptura com as estruturas tradicionais, como a escrita voltada para os pequenos dramas interiores. Nota-se que o leque de estilos, problemáticas, estruturação e temática se ampliou, inclusive na produção infantojuvenil. Se nas décadas de 80 e 90, nosso levantamento aponta o predomínio da produção literária infantojuvenil, a partir de 1991 é possível ver outras formas literárias, como contos, poesias e romances, ganharem um pouco mais de espaço.
As vozes femininas inovadoras se desenvolvem em diferentes chaves na produção ficcional voltada para o leitor infantil ou adulto, revelam-nos uma mulher escritora que interroga as realidades, que luta com as palavras – buscando um novo conhecimento de si, do mundo e dos outros. O leque de temas se abre cada vez mais, cedendo lugar às sondagens existenciais, ao ludismo da invenção literária, à redescoberta dos mitos... Afinal, o que caracteriza a obra feminina é essencialmente sua formação sociocultural, sua percepção ideológica e visão de mundo.
Segundo Lúcia Vianna e Márcia Guidin (2003), muitas mulheres brasileiras escreveram ao longo do século XX e nem sempre se teve notícia de tais escritos. Neste mesmo período se consolida a participação feminina na vida intelectual e cultural brasileira, do mesmo modo que se amplia o interesse dos leitores (em grande parte constituídos de mulheres) pelo que as mulheres escrevem.
E para Cremilda Medina (1989), a qualidade singular se sobressai na pluralidade quantitativa. Por isso, precisamos do exercício quantitativo para que se chegue a uma manifestação qualitativa, específica, de grandeza singular: “O artista singular é um artista que sabe trabalhar com o ser humano e tem uma visão de mundo sobre o ser humano que ultrapassa a barreira sexual” (MEDINA; COELHO et al., 1989, p. 39).
Esperamos que este trabalho possa trazer a público um panorama sobre a produção literária feminina de Araçatuba. O conjunto de obras, aqui reunidas e analisadas, exibe caminhos distintos percorridos pelas escritoras araçatubenses, em diferentes épocas e contextos. Lembramos que, por meio dessa trajetória, a mulher escritora busca consolidar sua progressiva inclusão na cena literária e na vida cultural da cidade. E este estudo se propõe apenas como ponto de partida desta discussão.
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