AGENDA CULTURAL

10.12.18

Paulo da Praça: menos um palmeirense



Paulo Sérgio Barbosa (Paulo da Praça)Ele era tão bom que até os corintianos choraram a sua morte.

*Hélio Consolaro, professor, jornalista, escritor. Araçatuba-SP

Ele era tão bom que até os corintianos choraram a sua morte. Com tanta gentileza, não foi bem-sucedido no mundo dos negócios.

Depois de várias tentativas de eu escrever algo sobre o Paulo Sérgio Barbosa, achei o motivo: somos palmeirenses. Ultimamente, encontrava o cara no Bar  do Nenê, onde os palestrinos se reuniam para assistir aos jogos. 

Que sobrou para eu escrever sobre o Paulo da Praça depois da reportagem do site "Araçatuba e Região"? Mas a vida dele sobrava para qualquer cronista.

Nosso encontro era sempre festivo, cuja alegria parecia brotar da infância, mas, na verdade, a amizade nasceu com a praça, como usuário e depois como secretário municipal de Cultura.  

Quando nos encontrávamos, a primeira pergunta era "E o Palmeiras?". E Paulo era sempre animado, otimista: "Dessa vez vai". Não cuidou dos negócios, só pensava no time. E foi.

Emocionou-se tanto com o sucesso do Palmeiras que não aguentou. Morreu onde teve a maior frustração: praça João Pessoa, praça da Caixa d'Água, a praça dos 500 anos. Tantos obstáculos que não conseguiu mais tocar a Cantina da Praça.

Paulo nunca dizia não. Nem gritava. Conversava, explicava, falava baixinho. O interlocutor dele ia para casa achando que o Paulo tinha lhe dito "sim", mas logo descobria que ouvira nas entrelinhas um disfarçado "não". 

Nessa enrolação da fala, ele acabou enrolando também os negócios. E assim, morreu ao pé da cruz: a Cantina da Praça. Morrer num banco da praça João Pessoa, parece uma tragédia grega. 

Sentia que ia morrer e escolheu o lugar. Pegou a bicicleta, o transporte que lhe sobrou, e foi se entregar com a frase: "Não dei conta".

O leitor pode pensar que quero dar "status" de herói para um cidadão tão simples. Jesus Cristo não se deu bem no mundo dos negócios, ou melhor, nem participou dele. 

As pessoas anônimas precisam ser heroínas de sua própria vida: gostar de si, auscultar a voz de dentro. Do contrário, não suportamos a trama, nos definhamos.  

A simplicidade do Paulo da Praça repercutiu com sua morte, ficou como exemplo. Quer melhor sucesso? 

LEIA REPORTAGEM DO SITE "ARAÇATUBA E REGIÃO!