AGENDA CULTURAL

23.2.19

Tenha olhos para a sua cidade


*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP

Noutro dia, cheguei adiantado a uma reunião na Academia Araçatubense de Letras (AAL); para matar o tempo com dignidade folheei um livro, li as mensagens no celular, esperando o correr dos minutos. 

De repente, joguei os dois de lado e minha voz de dentro me disse: "tenha olhos para o real, observe a sua cidade. Lá estão seus semelhantes de carne e osso". 

Era o momento do "rush" nas ruas da cidade, dentre 18h e 19h30. Só de ônibus de estudantes passaram quase dez, fora os da Transportes Urbanos Araçatuba (TUA) cujo terminal fica na vizinhança.

A sede da AAL se localiza entre duas ruas cujos patronos foram contemporâneos: Olavo Bilac e Joaquim Nabuco. Ocupado com as lides naquele prédio, até nos esquecemos dessa particularidade. Preocupados com o presente, nos esquecemos de olhar para trás.

Percebi que a cidade corre sobre rodas. Os pedestres andam ligeiro para chegar ao terminal rodoviário urbano "Nélson Reis Alves" e também pegar as rodas do ônibus. Muitos motociclistas, pouquíssimos ciclistas que quase eram massacrados durante o "rush". 

Nos carros de passeio, onde cabem quatro pessoas, havia apenas o motorista solitário. Espaço ocioso. Uma pessoa com carro ocupa muito espaço no trânsito da cidade, em suas artérias. Era Araçatuba pulsando. 

Nos veículos, ninguém observava isso com poesia, apenas se preocupavam em não provocar uma colisão. E os pedestres na correria dos compromissos. 

Na mureta do bangalô, hoje sede da AAL, outrora, residência de ferroviários, havia um cronista observando a cidade se movimentando como um tsunami. Ele desejava que a cultura e a literatura tivessem espaço também naquela onda gigante.

O cronista abandonou o livro e celular, duas fugas da realidade, para ver a cidade pulsar, mas depois de ver tanto niilismo no real, faz outro apelo no final desse texto, que os urbanos coloquem a cultura e a literatura na correria para dar mais sentido àquela bagunça, porque viver a vida, no campo ou na cidade tem que ter uma seta dizendo: "caminho seguro, siga por aqui". A cidade não é apenas corre-corre para lugar nenhum. A literatura e a cultura também.   

Nenhum comentário: