AGENDA CULTURAL

23.4.19

Gregório de Matos ressurge em Santos-SP

Adilson Durante Filho

Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP
Li a notícia de que uma autoridade da cidade praieira de Santos-SP andou dizendo abobrinha no celular. O pessoal está achando que o Whatsapp seja um brinquedinho, por isso falam certas coisas como se estivessem no boteco. Muita gente anda se dando mal...

Mensagem racista de WhatsApp:
“Esses caras, têm que desconfiar de todos. Todos que tu conhecer. Essa cor é uma mistura de uma raça que não tem caráter. É verdade, isso é estudo. Todo pardo, todo mulato, tu tem que tomar cuidado”. Adilson Durante Filho, secretário-adjunto de Turismo do município de Santos-SP e conselheiro do Santos F.C.
Gregório de Matos
Como sou um professor de Literatura, a fala do Adilson Durante Filho me remeteu ao poeta baiano Gregório de Matos e ao escritor paulista Mário de Andrade.

Gregório detestava mulatos. E naquela época de escravidão, em que negros não eram considerados como gente, o racismo era a regra. Veja o terceto abaixo:

Muitos mulatos desavergonhados
Trazidos sob os pés os homens nobres  
Posta nas palmas toda a picardia (GM) 

Segundo explicações do professor Fernando da Rocha Peres: "A hostilidade de GM aos negros e mulatos, principalmente a estes últimos, é uma constante em sua satírica.
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Frutos do produtivo entrelaçamento étnico, os mulatos proliferavam em quantidades assustadoras. Alguns eram protegidos pelas casas grandes como já foi dito, vivendo um ambiente onde podiam assimilar padrões de comportamento e educação. Adquiriam os mulatos uma psicologia própria, assumindo atitudes novas perante a vida. Diferenciados do branco e do negro, portadores de padrões novos, tendem a ascender socialmente e a
assumir uma individualidade que os distingue".

A fala de Adilson Durante Filho me remeteu também a Macunaíma, de Mário de Andrade, cujo brasileiro é tipificado como um "herói sem nenhum caráter" pelo personagem principal. 

Aquilo que Gregório de Matos fez na Bahia no século 17 não pode ser repetido agora, porque vivemos em momentos diferentes, numa civilização menos bárbara, mas há gente ainda com a mentalidade escravocrata.




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