AGENDA CULTURAL

28.12.19

A atualidade do livro "Alice no país das maravilhas". O prazer da releitura

Ilustração de Salvador Dalí (1969) sobre o livro 
*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP
A minha formação cultural, no sentido tradicional da palavra, foi pobre, pois se deu conforme a situação econômica de minha família. A partir do curso universitário, quando ganhei consciência da perda, me motivei para recuperar o tempo perdido.

Iniciando o magistério, o livro didático adotado na antiga quinta série apresentava um fragmento do livro "Alice no país das maravilhas" que apresentava um grupo de soldados, que juntos formam um baralho de cartas e se referem uns aos outros como números. 

Brigavam enquanto pintavam as rosas brancas com tinta vermelha. Alice questionou os soldados, procurando saber por que estavam mudando as cores das pétalas.  

Como professor, toda vez que eu deparava com texto  de livro que eu não havia lido, procurava fazer a leitura dele. Assim, li várias vezes o "Alice no país das maravilhas". Como a TAG me mandou o livro de presente, fiz nova leitura. Agora, com a preocupação de resenhá-lo. Edição com as ilustrações originais de John Tenniel, tradução de Resaura Eichenberg, 157 páginas, medindo 12cm por 17cm. 

"Alice no país das maravilhas", publicado em 1865, literatura inglesa, é um livro da literatura infanto-juvenil de Lewis Carrol, que é o pseudônimo de Charles Lutwidge Dodgson. Trata-se de um livro que relata o sonho de Alice, publicado bem antes do livro "Interpretação dos Sonhos" (1899) de Freud.

Quando se lê "Alice no país das maravilhas" em que a protagonista muda de tamanho conforme come certas coisas, fica evidente que o livro mantém certa intertextualidade com a "A chave do tamanho", de Monteiro Lobato. Deve ter inspirado o escritor brasileiro.   


Capa do livro - TAG
O autor faz uma crítica à monarquia inglesa: no momento do julgamento, o Rei veste, sobrepondo, a cabeleira de juiz à coroa, um exemplo figurativo da dependência dos poderes. A história propõe uma educação mais criativa, baseada na curiosidade, não tendo como base a decoreba e a repetição. Isso no século 19, quando Paulo Freire nem era nascido.

O livro é uma obra aberta, por isso até hoje os leitores vão descobrindo novas revelações em suas leituras. Há um diálogo antológico entre Alice e o Gato Cheshire. 

Ela perguntou "Poderia me dizer, por favor, que caminho devo tomar para sair daqui?" O felino respondeu:"Isso depende bastante de onde você quer chegar." Alice disse que o lugar não importava, e o Gato redarguiu: "Então não importa que caminho você vai tomar".
   

Como o cenário é onírico com uma história cujos personagens são animais e cartas de baralho (menos Alice), no decorrer da história são citados elementos alucinógenos. 

"A Lagarta que fumava narguilé vê a garota e resolve ajudá-la, aconselhando-a e indicando um cogumelo que pode fazê-la aumentar ou diminuir de tamanho a qualquer momento. Um inseto destinado à metamorfose, simboliza a capacidade de aceitarmos nossas mudanças e transformações ao longo da vida."

O livro inspirou o cineasta brasileiro Edgar Navarro, que em 1976 fez o filme "Alice no país das mil novilhas", cujo cenário foi a Fazenda Modelo, livro de Chico Buarque de Holanda. Com certeza, bem mais dentro da realidade brasileira. Há muitos outros, como também o recente lançamento da Walt Disney.

Nestes tempos de falso moralismo, com censura forte sobre as obras de arte, se "Alice no país das maravilhas", de Lewis Carrol, fosse um lançamento recente, não seria leitura permitida nas escolas. 

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