Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Ex-secretário de Cultura de Araçatuba-SP
Enquanto fui secretário de Cultura do município de Araçatuba, 2009-16, o meu norte era que não cabia ao Poder Público (ou Estado) fazer cultura. Quem é o agente cultural mais amplo é a sociedade.
O governo pode ajudar iniciativas culturais com recursos, selecionadas por um coletivo plural, sem apadrinhamento e sem preferências ideológicas, por isso foi criado o Conselho Municipal de Políticas Culturais com caráter deliberativo. Com publicação de editais.
O evento que o conselho escolhe era lei, nem secretário e nem prefeito altera. Isso é realizado até hoje, pois há lei votada pela Câmara Municipal em 2011 para que tudo isso funcione democraticamente.
Outro aspecto da cultura é o seu conceito. Há o antropológico: cultura é tudo aquilo que o ser humano faz, fora da natureza, e os demais seres vivos (ditos animais) seguem apenas seus instintos. Há também as artes feitas por artistas, inclusive a popular, que também são importantes, precisam de apoio do Poder Público sem dirigismo.
Nessa esteira, não há povo sem cultura. Quando alguém diz que o povo não tem cultura, é dirigista, só valoriza as artes, principalmente aquilo que é feito pela elite intelectual. Dizer que pagode e música sertaneja não são artes é preconceito. Numa sociedade dividida em classes sociais como a nossa, todos os segmentos estéticos têm o direito de ter apoio à sua arte.
Nessa avaliação, eu digo com bastante clareza, houve muitas convergências entre PT e PSDB entre governos passados. Os liberais de direita também concordam com tais princípios. Só não concordam os autoritários de direita e de esquerda. Eles acham que o mundo está perdido e querem consertá-lo segundo os seus pontos de vistas. Com tal pensamento só pode surgir mesmo um ditador.
O governo Bolsonaro condena tanto o comunismo, mas age como Mao Tse-tung, querendo fazer uma revolução cultural. Ele quer impor a ideologia conservadora antidemocrática. Um governo democrático governa para todos e, se possível, com a participação da maioria. Roberto Alvin, o ex-secretário especial de Cultura do Governo Federal, com seu vídeo, deixou o presidente nu, com sua ideologia exposta.
Rodrigo Maia ajuda, mas a força maior é a nossa indignação.
Um comentário:
Sábias palavras professor... e concordo a cultura sem intelectualidade também é cultura... enquanto isso vamos por o outro disco (rígido?) pra tocar🎶🎵
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