AGENDA CULTURAL

23.4.20

Live, uma carona no corona


Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP

Live - termo inglês cuja tradução pode ser "ao vivo". Quem criou esse gênero de show foi o Facebook, uma das redes sociais bem poderosas. Agora, o YouTube se aproveitou e andou fazendo lives de sete ou 10 horas, parecendo um programa de TV com culinária e às vezes muita bebida.   


Tudo começou muito simples, antes da pandemia do coronavírus, e se fixou depois dela. Com a falta de shows nos barzinhos, com a vontade de fazer sua arte, ou seja, os artistas mais simples se exercitando, dizendo "estou aqui", logo voltaremos. Na falta de alternativa, os grandes nomes da música acharam a ideia ótima. Como dizem os curandeiros, uma resistência à ditadura da ciência.  


O segmento dos cantores que investiram pesado neste gênero midiático foi o sertanejo. Alguns se aproveitaram para fazer as livres em suas mansões, para mostrar as suas fortunas. Confesso que andei assistindo a lives de vários gêneros musicais, mas não gostei desse formato de show.    


Os grandes shows com multidões, com parafernália tecnológicas, com bandas e até orquestras, nos viciaram. Ver o ídolo com um violão tentando cantar suas músicas não me entusiasmou. Sei que também foi uma forma de ganhar um dinheirinho neste tempo de shows cancelados, havendo grandes patrocinadores. Há a oportunidade de doações dos internautas para entidades que socorrem os desvalidos. Até Roberto Carlos não resistiu à live.   


Quando o presidente da República faz seus xingamentos por live, eu sou comunicado imediatamente pelo Facebook. Como não sou fã daquela cavalgadura, nem ligo. Leio as repercussões depois. Com certeza, nas eleições deste ano (2020), a live será largamente usada nos grandes municípios. É o uso político da live.  

  
Durante a Semana Santa, cada paróquia igreja católica, transmitiu suas missas, só com o altar, por meio de lives. Cada pároco ajeitou seus fiéis para transmitir os atos litúrgicos por live. A internet nadou em água benta.

   Antes, os mais velhos se queixavam dos jovens porque eles não largavam o celular, não saíam, não brincavam. Agora "ficar em casa" se tornou uma palavra de ordem. E todos em torno do televisor (o que se passa no celular e no notebook, dá para assistir na TVsmart também) vendo uma live:

- Vó, hoje, tem live de sua cantora preferida! Alcione!


Assim, a vida vai. Não se aprende no amor, vem a dor e ensina do seu jeito. O mundo existe comigo ou sem mim.


ANIVERSÁRIO DO BRASIL


O Brasil comemorou 520 anos na quarta-feira. Não houve nada para comemorar a data . Apenas o poeta modernista fez um poemeto muito significativo, quase um haicai, uma live, no início do século 20, pondo a realidade do aniversário de nosso país: 


ERRO DE PORTUGUÊS

Quando o português chegou
Debaixo duma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português.

Sabemos que houve uma tramoia na  narrativa contada pela história oficial, mas não importa se o filho é bastardo ou não, o aniversário precisa ser comemorado. 

É bom lembrar que o Brasil é o único país que tem certidão de nascimento, a Carta de Caminhas. 



Um comentário:

Patrícia Bracale disse...

Que tenhamos tempos livres vivos pra comemorar
Salve