Antônio Reis*
Uma
guerra injusta, se é que existe guerra justa, estrangula um lado profundamente
mergulhado no cruel combate. A destruição avança sobre um dos campos de
batalha, onde se posiciona o lado mais fraco, apesar de mais numeroso. Do lado massacrado,
as armas são precárias e escassas, como uma segunda Canudos, que teima em
resistir. A artilharia inimiga parece mirar justamente os estrategistas dos
esfarrapados.
Nesta
sexta-feira, 29 de maio do ano a ser esquecido, a baixa no exército massacrado
é o jornalista Gilberto Dimenstein, vitimado por câncer no pâncreas e fígado. O
talentoso paulistano, com passagem pelos grandes veículos de comunicação do país, fez da escrita sua arma de combate à corrupção, de promoção dos direitos
humanos e da cidadania. Com vários livros publicados, entre eles “O Cidadão de
Papel”, ganhador de um Jabuti, Dimenstein tem trabalhos premiados aqui e no
exterior, como o site Catraca Livre, que tão bem representa o conceito de “acupuntura
social”, defendida por ele, que significa pequenas ações voltadas à promoção da
cidadania e inclusão social.
O
desaparecimento de Dimenstein fará muita falta num momento que o inimigo avança
com ferocidade sobre o exército esfarrapado, formado por assalariados, negros,
favelados, gays, ambientalistas, defensores dos direitos humanos, artistas e a
todos que têm a vida como bem supremo. Identificado com os valores
democráticos, o jornalista combateu o bom combate porque enfrentou o nanismo
moral e suas marionetes. Teve a genialidade de mostrar quem são e o que fazem
os donos do poder e seus sabujos. Por isso, Dimenstein fará muita falta. Um
combatente a menos, um duro golpe na cultura e na cidadania do país. Uma
referência do jornalismo que influenciou muitos profissionais bem sucedidos.
Da
mesma forma estão fazendo falta Clóvis Rossi, Otávio Frias Filho, Ricardo
Boechat, Paulo Henrique Amorim e Nirlando Beirão, que tombaram nos últimos dois
anos, e tinham na escrita cotidiana a arma de combate à sordidez de seres que
se julgam humanos. São perdas imensas em tão pouco tempo. E num tempo em que
chove ácido no lombo de quem tem sangue nas veias e coração no peito.
O
combate tem sido desigual, pois na contagem das vítimas, percebem-se as baixas em
apenas de um dos lados combatentes, enquanto o outro avança com a artilharia da
maldade, ódio, mentira e desprezo pela vida. E ainda há quem acredite que Deus
é brasileiro.
*Antônio
Reis é jornalista e
ativista do Grupo Experimental da AAL (Academia Araçatubense de Letras).
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