Eu e o mano Hélio, diretamente e o
Alberto e Luís à distância, auxiliados por cuidadora e pelas noras, cuidamos
dela: teimosa, de forte personalidade, como matriarca filha de italianos, quer
controlar tudo ainda, participar de toda conversa, mesmo com certa deficiência
auditiva, quer estar junto, sempre conversando sobrr o passado, claro, mas de um
coração imenso e de uma vida dedicada à família e aos filhos.
Obrigado, mãe, por ter corrido todos
riscos em me dar a luz na zona rural nas mãos de parteira, de trabalhar de sol
a sol na roça para ajudar no sustento da família.
Obrigado, mãe, pelo apoio ao meu pai,
para que pudessem estudar os 4 filhos a ser alguém na vida, como diziam na
época, embora houvesse muito empenho dos parentes para que não o fizessem com o
argumento de que “vocês estudam os filhos depois de formados, lhes dão
um pé no traseiro”.
Obrigado, mãe, por ter acordado com a
gente às 4 horas da manhã, todos os dias, o ano inteiro, quando fiz o Tiro de
Guerra.
Obrigado por levar as reprimendas com
umas boas chibatadas, por não fazer as tarefas da escola e ficar só brincando
na rua, quando a família mudou para a cidade em 1961 e não fazer algumas
tarefas domésticas estabelecidas já que em alguns meses do ano era pai e mãe,
dado que meu pai Luís era carpinteiro de currais e cercas, e se alongava para
as fazendas distantes da região até cumprir o contrato com o fazendeiro.
Obrigado por brigar com o meu pai em minha
frente, como qualquer casal, me mostrando involuntariamente como é o dia a dia
de uma casamento, agravado por falta de dinheiro para sustentar a casa e quatro
filhos.
Acreditamos que os pais são eternos,
imutáveis, que estarão próximos quando surgir a necessidade. Mas eles adoecem e
morrem.
Se é certo que os pais um dia vão adoecer
e partir, por que não organizamos a nossa vida para acolhê-los? Por que não
assumimos sua gestação? Por que não reduzimos o ritmo da carreira para darmos
sentido para os seus últimos dias?
Há filhos que abortam seus pais dentro do
coração, e os enterram precocemente, antes mesmo do velório. Abandonam os pais
no asilo. Largam os pais para a temeridade violenta da solidão.
Não
deveríamos procurá-los só quando precisamos. É transformar o amor em interesse,
é converter a ternura em assistencialismo.
Filhos demoram para a empatia. Caminhamos
com um ano, falamos com até dois anos, levamos décadas para avançar na
generosidade.
Nossos pais foram envelhecendo, foram se
fragilizando, foram precisando mais de nós. E como não precisávamos tanto
deles, ocupado com o nosso trabalho e as nossas relações, não demos a devida atenção
que eles mereciam.
Por fim, meus caros, este artigo é uma
tentativa de ser mais pai de minha mãe, e devolver um pouco do que recebi dela
na infância.
Pelo menos, serve como um pedido de
desculpa.
*Gervásio Antônio Consolaro, ex-delegado regional tributário do estado, agente fiscal de Rendas aposentado. Assessor executivo da Prefeitura de Araçatuba, administrador de empresas, contador, bacharel em Direito e pós-graduado em Direito Tributário .
(Crônica publicada no jornal Folha da Região, 06/05/2020)
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