Se o teste para coronavírus deu positivo, significa que estou ou vou ter a doença? Quando eu posso me considerar imune?`
A imunidade humoral atua mais por anticorpos e a celular, por via mediadores e contato celular, especialmente contra os vírus dentro das células |
Opção 1 - Se o
teste foi do tipo RT-PCR, cujo resultado demora 48h e até alguns dias, a
positividade indica que você tem (ou teve) o vírus no corpo, mas não
necessariamente está doente. Provavelmente você está transmitindo o vírus para
as pessoas ao seu redor. O teste RT-PCR detecta a presença do vírus onde ele
foi coletado e apenas naquele momento!
A coleta do vírus foi nas secreções nasais e bucais e não
significa que ele já tenha entrado nas células. Como são muitos vírus,
dificilmente eles não entrarão no interior do corpo. O vírus coletado é levado
para o laboratório onde seu material genético é multiplicado em algumas horas e
captado pelos reagentes.
O resultado dificilmente será falso pela precisa
metodologia utilizada, mas o que pode falhar é a coleta. Outro cuidado ao
interpretar é que o exame indica a presença do vírus na secreção naquele
momento. Depois da coleta, a pessoa pode se contaminar facilmente em época de
pandemia, dando a impressão que o exame foi negativo e a pessoa ficou doente
mesmo assim! Este é um dos motivos deste tipo de exame ser feito em pessoas que
já estão com suspeita clínica da doença!
Opção 2 – Se o
teste for do tipo rápido, ou sérico, cujo resultado sai em alguns minutos, a
positividade indica que se tem anticorpos (ou imunoglobulinas) prontos contra o
coronavírus no corpo. Se for anticorpo tipo IgM, o contágio viral aconteceu aconteceu entre 7 a 21 dias. Ele é um anticorpo das respostas primárias em
todas as situações clínicas ou doenças. Se positivo, não necessariamente indica
que se tem ou teve a doença clinicamente com seus sinais e sintomas, pois você
pode ter tido a doença subclínica, mas pode estar ainda contagiando as demais
pessoas pelo aerosol e gotículas que saem pela boca e nariz.
Opção 3 – Se o
teste for do tipo rápido, ou sérico, e o anticorpo detectado foi do tipo igG, significa
que o contágio viral aconteceu faz mais de duas semanas. Ele é o anticorpo das respostas secundárias
mais tardias em todas as doenças e situações. Não significa que necessariamente
você tem ou teve a doença com sinais e sintomas, pois ela pode ter sido
subclínica. Mas significa que você foi contagiado e já transmitiu o vírus para
muitas pessoas.
IMUNE ?
Se o teste rápido ou sérico deu positivo, se já tive ou
nunca tive sinais e sintomas, posso me considerar imune e livre da doença? Não.
Há muitos relatos, às centenas, de pessoas que a doença se manifestou
novamente, por que a resposta imunológica para os vírus é muito mais celular do
que humoral, ou seja, depende mais das células sensibilizadas do que da
presença de anticorpos. Sem contar que o vírus sofre mutações constantes e a
imunidade é específica demais.
Há dois tipos de resposta imunológica. A “humoral” que produz
muito anticorpos pelos plasmócitos e que atuam fora das células contra as
bactérias que são parasitas extracelulares. Na “celular”, a resposta é feita
por linfócitos que liberam “citocinas”, como o interferon, que entram dentro
das células infectadas e interferem na produção de novos vírus ou mandam estas
células se suicidarem! Talvez, isto explique por que muitos curados da covid-19
não apresentam anticorpos circulantes por muito tempo e podem se infectarem
novamente! Os vírus são parasitas intracelulares.
CUIDADO !
A pessoa ao se considerar imune pode se ter a falsa ou
“pseudo” sensação de liberdade frente ao coronavírus, mas infelizmente isto
ainda é perigoso, sem contar que esta mesma pessoa pode, no dia a dia, ter o
vírus na pele, roupas, máscaras e luvas e continua a ser contaminante, como
qualquer outra pessoa!
Ainda não dá para tirar “uma onda” em cima dos amigos
dizendo que estás imune com segurança total. E o profissional da saúde que teve
a doença e volta a trabalhar, continua ainda tendo riscos de ter a doença
novamente. Estes são os heróis, fazendo por nós!
Alberto Consolaro – Professor Titular da USP FOB - Bauru-SP: consolaro@gmail.com
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