AGENDA CULTURAL

12.5.20

Você corta um verso, eu escrevo o outro. Abaixo a ditadura militar


Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP

Trancado em casa, a gente se encontra. Parece um paradoxo, porque quem se tranca se isola, mas com o desenvolvimento da tecnologia da comunicação isso é possível.

Estava eu zapeando pelo Youtube na segunda-feira, à procura de uma "live", quando a própria plataforma me põe de cara com um show do antigo conjunto MPB4, composto por homens, grupo vocal e instrumental. Eles cantam músicas de Noel Rosa, Milton Nascimento, Chico Buarque, João Bosco, Paulo César Pinheiro, Aldir Blanc, Vinicius de Moraes e Tom Jobim.

Eu estava com saudades da rapaziada, mas descobri que eles estão presentes na internet, inclusive com site próprio. Talvez minha saudade seja a de um fã ingrato que abandonou no caminho das lembranças o ídolo. A sua composição é feita de Miltinho, Aquiles, Dalmo e Paulinho Pauleira. Quem quiser conhecer o grupo e sua história, deve acessar: www.mpb4.com.br


MPB4 sempre me lembra Chico Buarque, músicas censuradas, ditadura militar. Hoje, apesar do grupo ser recomposto, os quatros são velhinhos, gente castigada pelo tempo conforme a sua ferocidade dos anos.

E o show apresentado em 8 de maio de 2020 (mas continua à disposição) tem o nome de verso da música Pesadelo: "Você corta um verso, eu escrevo outro", que representa bem a teimosia dos artistas que eram perseguidos pelos censores da ditadura militar. 

Eu que pensei que aquilo era passado, eis que os autoritários, pessoas tóxicas que não aceitam o outro, ressurgem com toda força, mas já estão se derretendo pelo caminho como um picolé nas mãos dos artistas.
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Eis as músicas:
Apesar de você - Chico Buarque
Para dizer que não falei das flores - Geraldo Vandré
Cálice - Gilberto Gil e Chico Buarque
Cordilheira - Sueli Costa e Paulo César Pinheiro
Partido Alto - Chico Buarque
Samba do Erneto - Adoniram Barbosa e Oswaldo Moles
Para de tomar a pílula - Odair José
Atrás da porta - Francis Hime e Chico Buarque
Severino Xique Xique - Genival Lacerda e João Gonçalves
Meley Calabar - Chico Buarque e Ruy Guerra
Opinião - Zé Kéti
Favela - Padeirinho e Jorginho
Portela 74 - Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro
Roda Viva - Chico Buarque de Holanda
Gota d'água - Chico Buarque
Acorda, amor - Julinho da Adelaide e Leonel Paiva
Pesadelo - Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro
O bêbado e o equilibrista - João Bosco e Aldir Blanc
  

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