30 de agosto/2020,
7h50. Não fossem o tempo seco e as notícias de queimadas, este agosto poderia
ser confundido com outro mês qualquer. Tido como mês de ventania, cachorro
louco, azar e rebuliços políticos, há tempos se dizia: “Felizmente agosto está
terminando”. Atualmente, no mês do imperador romano Carlos Augusto nada
acontece e, por isso mesmo, é cabível o desafogo: “Felizmente agosto está terminando”.
Melhor seria se o fatídico mostrasse sua natureza, mas os agostos não são os mesmos
de antigamente.
Mês que prepara a chegada
da primavera, em agosto geralmente venta muito. É preciso derrubar a folhagem
ressequida pelo frio para que setembro dê às plantas nova roupagem. E por ser
mês de ventania, sempre foi também marcado por surtos de doenças transmissíveis
por vírus. Epidemia ou pandemia não é novidade, haja vista o inverno/agosto de
1973, quando a meningite pôs fim ao sonho de muitas famílias vitimando
principalmente crianças. O governo militar, como agora, a desgraça em pessoa, censurou
informações deixando a população à mercê da doença. Neste ano, apesar do pouco
vento, já são 120 mil mortos.
Já que ventania
esparrama vírus, inclusive da raiva animal, os agostos eram o mês do cachorro
louco. As ruas eram lugares arriscados, muitos cães errantes. Hoje, com o mundo
pet ao alcance de qualquer um, os cachorros loucos se refugiaram nas redes
sociais. Lá, babam e destilam a raiva canina que, como se sabe, não tem cura. Detestam
o claro e as clarividências, chegando a ameaçar quem tenta jogar luz em direção
de seus queixos duros. São contrários a vacinas a ponto de inventar mentiras a
respeito delas. Quanta saudade dos cachorros loucos dos agostos passados.
A crendice popular
apelidou agosto como o mês do desgosto. Talvez por ser a trintena da transição
para a troca de estação, a primavera, as mudanças são abruptas. Faz parte do
imaginário popular de que após a tempestade vem a bonança, o azar que antecede
a sorte. Algo para se apresentar como belo, precisa ser refeito a ponto de exibir
suas mazelas. Há males que vêm para o bem. A crendice se encaixa bem em agosto,
o mês do folclore.
Nos agostos
passados, havia rebuliços políticos no País. No ano de 1954, às 8h45 do dia 24
do mês cinzento, Getúlio Vargas decidiu, com um tiro no peito, sair da vida
para entrar para a história. Sete anos depois, movido por forças ocultas, Jânio
Quadros pega sua vassoura e xispa da Presidência da República. Em 1976, o já
ex-presidente Juscelino Kubitschek morre em suspeitíssimo acidente automobilístico no
interior do Rio de Janeiro.
Em 2020 nenhum rebuliço político para desgosto da maioria.
Nenhunzinho, nadica de nada, apesar de haver motivos de sobra para um bom “pega
pra capar”. Se o agosto não foi ao gosto da maioria, quem sabe a primavera
será, como diziam as moças e rapazes de Praga, em 1968.
(*) Antonio Soares dos Reis. Jornalista e ativista do Grupo Experimental da AAL.
Um comentário:
Parabéns. Belo texto. Brilhante experiência. Só Sucesso!!!
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