AGENDA CULTURAL

13.11.20

Campanha eleitoral nos tempos dos comícios


Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP

Fiz política no tempo dos comícios, que já eram mais civilizados, com lugares marcados pela prefeitura, que também emprestava o palanque.

Meu pai, na década de 60, foi em comício de João Batista Botelho e Sylvio José Venturolli, disputando a Prefeitura de Araçatuba entre si. Quem tinha mais dinheiro pagava mais propaganda no rádio. Espaço de pobre só tinha um nome: ser cabo eleitoral.

A turma de um candidato ia com um caminhão cheio de pedregulhos ao comício do outro para jogar pedras no palanque e na plateia. E depois dizem os velhinhos que antigamente havia mais respeito.

O comício mais temido era o último porque nele se podia falar alguma mentira (fake news) sobre o adversário, denunciar coisa escondida dele. A praça do Cristo Redentor era o lugar mais temido  para tais façanhas.

Panfletos anônimos (fake news) eram muito usados naquela época, e a Justiça Eleitoral não era tão rigorosa, não havia leis tão disciplinadoras. Não se controlava o dinheiro gasto em campanha, e no entusiasmo, muitos perderam fortunas. Havia candidatos que vendia sua única casa onde morava para pagar despesas de campanha, outros vendiam fazenda, depois perdiam a eleição.

O título de eleitor tinha foto da pessoa, e o povo pedia a fotografia para os candidatos. E os candidatos, na ânsia de ter mais eleitores, fazia uma conta num estúdio de fotografia e distribuía vales para as famosas fotos 3x4. Era uma forma barata de comprar votos. 

Na minha eleição para vereador em 1982, onde o trabalho de boca-de-urna era permitido no dia da eleição, eu convidei meus alunos de escolas públicas  e particulares (muitos menores de idade), uniformizados com minha camiseta para fazê-lo. Com distribuição de água, refrigerantes e lanches durante o dia todo em torno dos locais de votação. Era uma farra para os alunos. Não posso chamar isso de prática de cidadania, mas era um pouquinho sim.

Outra preocupação era dos cabos eleitorais contratados, se deixasse de receber antes do dia da eleição, certamente levava o calote, o candidato sumia, o cabo eleitoral ia receber no céu. E se o encontrasse, ouvia a explicação mais esfarrapada:

- Não vou pagar, não. Vocês não trabalharam direito, perdi a eleição.

Vou parar por aqui, caro leitor, porque textos digitais não podem ser enormes. Conheço a modernidade. Na próxima segunda-feira, muitos candidatos vão dizer: "Fui traído". Tanta gente declarou voto que ele achava que a eleição já estava ganha. Ingênuo.  


Um comentário:

Unknown disse...

legal Hélio. O povo gostava muito de ir aos comícios, a história dos pedregulhos eu não sabia não. Boa noite