Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP
Fiz política no tempo dos comícios, que já eram mais
civilizados, com lugares marcados pela prefeitura, que também emprestava o
palanque.
Meu pai, na década de 60, foi em comício de João Batista
Botelho e Sylvio José Venturolli, disputando a Prefeitura de Araçatuba entre
si. Quem tinha mais dinheiro pagava mais propaganda no rádio. Espaço de pobre
só tinha um nome: ser cabo eleitoral.
A turma de um candidato ia com um caminhão cheio de
pedregulhos ao comício do outro para jogar pedras no palanque e na plateia. E depois
dizem os velhinhos que antigamente havia mais respeito.
O comício mais temido era o último porque nele se podia
falar alguma mentira (fake news) sobre o adversário, denunciar coisa escondida dele. A
praça do Cristo Redentor era o lugar mais temido para tais façanhas.
Panfletos anônimos (fake news) eram muito usados naquela época, e a Justiça Eleitoral não era tão rigorosa, não havia leis tão disciplinadoras. Não se controlava o dinheiro gasto em campanha, e no entusiasmo, muitos perderam fortunas. Havia candidatos que vendia sua única casa onde morava para pagar despesas de campanha, outros vendiam fazenda, depois perdiam a eleição.
O título de eleitor tinha foto da pessoa, e o povo pedia a
fotografia para os candidatos. E os candidatos, na ânsia de ter mais eleitores,
fazia uma conta num estúdio de fotografia e distribuía vales para as famosas
fotos 3x4. Era uma forma barata de comprar votos.
Na minha eleição para vereador em 1982, onde o trabalho de
boca-de-urna era permitido no dia da eleição, eu convidei meus alunos de
escolas públicas e particulares (muitos
menores de idade), uniformizados com minha camiseta para fazê-lo. Com
distribuição de água, refrigerantes e lanches durante o dia todo em torno dos locais de votação. Era uma farra
para os alunos. Não posso chamar isso de prática de cidadania, mas era um
pouquinho sim.
Outra preocupação era dos cabos eleitorais contratados, se
deixasse de receber antes do dia da eleição, certamente levava o calote, o
candidato sumia, o cabo eleitoral ia receber no céu. E se o encontrasse, ouvia a explicação mais
esfarrapada:
- Não vou pagar, não. Vocês não trabalharam direito, perdi a eleição.
Vou parar por aqui, caro leitor, porque textos digitais não
podem ser enormes. Conheço a modernidade. Na próxima segunda-feira, muitos candidatos vão dizer:
"Fui traído". Tanta gente declarou voto que ele achava que a eleição
já estava ganha. Ingênuo.
Um comentário:
legal Hélio. O povo gostava muito de ir aos comícios, a história dos pedregulhos eu não sabia não. Boa noite
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