AGENDA CULTURAL

16.11.20

Crônica velha e atual: Fui traído! - campanha eleitoral



Hélio Consolaro*
(07/10/2012)

 Cumprimentar uma pessoa, às vezes, é feito automaticamente, mas tudo em nossa vida tem uma história, um porquê.

Dizer a alguém “bom-dia” é desejo de amigo, mas nem sempre é assim: desejamos coisas boas para nossos inimigos.

Até aí, tudo bem, pois Jesus Cristo já disse que amar os amigos é fácil; sacrifício mesmo, por isso um ato de amor extremo, é amar os inimigos.

Um candidato a prefeito de Araçatuba que foi espinafrado pelo outro durante os debates da tevê no pleito de 2012, ao encontrar seu algoz no local de votação no dia 7 de outubro, não aceitou o abraço dele.

O classificado como fingido pensou assim: “Tudo não passou de brincadeirinha, política é assim mesmo.” O autêntico não soube esconder seus sentimentos. Como já escreveu Machado de Assis: não existe nada mais doloroso do que a autenticidade, a hipocrisia dói menos.

Sempre defendi que não se deve perder a amizade por causa de política, principalmente quando não somos candidatos. Se for candidato, lembre-se: o inimigo de hoje, pode ser um aliado amanhã. Então... Encare as eleições como se fosse uma partida de futebol. As botinadas terminam no fim do jogo.

Sabemos que o voto substituiu as armas. Antigamente, a disputa de poder se fazia no braço, na porrada, com revoluções e guerras. Hoje, na democracia, pugnamos usando as urnas, teclando de que lado estamos.

Já fui vítima de um político negar-me o cumprimento na hora em que lhe estendia a mão. Entendi o seu recado: “Estou armado contra você. Se passar na minha frente, não conte com minha clemência”. Então, todo cuidado é pouco.

Também neguei cumprimento recentemente a um sujeito que discordava de minhas posições políticas. Em vez de argumentar, me xingava por e-mail, essas coisas. Era meu amigo, ex-colega de trabalho, foi meu aluno, ensinei a ele o pouquinho que sabe na sua profissão. Certo dia, num bar, ele veio me cumprimentar. A minha resposta foi direta:

- Para eu cumprimentar você, precisamos conversar muito. Deixe esse cumprimento para outra hora.

O pessoal que estava na mesa comigo estranhou minha atitude. Naquele momento, eu mostrei que o cumprimento precisa ser precedido de uma reconciliação. Não aceitei a hipocrisia indolor.     

Discordar, ter posições diferentes, tudo bem. Tudo isso pode acontecer num ambiente democrático. Agora xingar, soltar panfletos apócrifos no dia da eleição só porque há uma discordância política ou disputa eleitoral é desvio de personalidade. Não sou  nenhum monge tibetano, falo alto, esbravejo, até grito em certas situações, jamais diminuo o outro.

Então, caro eleitor, nesta eleição, se perder, faça uma avaliação da derrota. Não fique jogando a culpa dela no outro, quase sempre ela está em nós mesmos. O Lula tentou quatros vezes para conseguir ser presidente do Brasil, assim aconteceu com o presidente francês “François Mitterrand”. Ao chegar lá, ambos foram excelentes líderes nacionais.

Não diga: “Fui traído”. Seria mais dignificante confessar: “Errei de novo”. Perder e cumprimentar o vencedor é sinal de civilidade, tanto nos esportes como na política. Embora seja da política que nascem as guerras, vamos quebrar o paradigma, cultivando a paz neste momento tenso.

*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP           

6 comentários:

HAMILTON BRITO... disse...

Se foi a vontade da maioria, fico satisfeito. Se votei nele ou nao, nao interessa. O que interesa é que a vontade da maioria prevaleceu.
Deo Gratias!

rui disse...

pois éh

Rui Barbosa disse...

Pois é.

Heitor Gomes disse...

Toda vitória é cíclica. Por isso administrar louros, poucos sabem. Somente aqueles que atingiram a maturidade. Todo conflito étnico nasce devido o tripudio dos que detém o poder aos subordinados. Lendo o tratado de Versalhes, vemos a imposição sofrida pela Alemanha, e isto gerou ódio mortal contra os opressores. Numa alternância de poder, vimos a tragédia que aconteceu. Um inimigo a menos é sempre melhor que um inimigo a mais. Abraços!

Unknown disse...

Excelente artigo...É lição Conselho de vida

Unknown disse...

Também gostei do artigo. Boa noite