A língua é o espelho da saúde! - Alberto Consolaro

 Língua geográfica discreta e outra mais extensa!

As pessoas têm vergonha da língua! No banheiro, quando a examinam no espelho, fecham a porta. A língua participa da libido e, como fazem com a genitália, não ficam mostrando por aí! Muita gente se recusa a participar de pesquisas que simplesmente mostram a língua, mesmo anônimas.

A língua é muito exigida. Todo líquido, sólido ou gasoso passa pela boca e têm contato com a língua. Apesar da forte proteção com grossa camada de queratina na superfície superior, a língua é o local mais frequente de câncer bucal nas margens laterais, ventre e soalho.

O dorso da língua tem a cor rosa claro uniforme pela queratina das papilas linguais. Se a superfície ficar branca ou amarelada, especialmente na sua parte central posterior, deve estar faltando higienização diária. Ou a pessoa se alimenta com produtos pastosos que não promovem atrição e ainda deixa resíduos na sua superfície lingual. Esta camada de resíduos e microrganismos se chama saburra e se ouve a expressão “língua saburrosa”.

As papilas mais numerosas são as filiformes que terminam quase como um fio de cabelo, que também é de queratina. Quando ficam um pouco maiores por falta de higiene ou atrição, assumem um aspecto de pelo e passa ser a “língua pilosa”. No meio deste “canavial” de papilas filiformes no dorso da língua, têm se as papilas fungiformes que parecem cogumelos bem pequenos com muitos botões gustativos.

CARECA E LISA

Se o dorso da língua ficar mais para o vermelho do que rosa e se apresentar lisa, sem “pelos”, ou melhor, sem papilas filiformes, se diz que está “lisa e careca”. Este aspecto é próprio das pessoas com carência nutricional de vitaminas do grupo B e ou de ferro. Depois da medula óssea produtora das células sanguíneas inflamatórias e imunológicas, o tecido que mais prolifera em velocidade é a mucosa lingual. Os tecidos que proliferam muito rapidamente, requerem nutrientes para suas células fazerem mitose.

Quando faltam vitaminas do grupo B e o ferro na alimentação, as pessoas ficam anêmicas e a língua torna-se lisa e careca. As anemias carenciais são chamadas de perniciosas e ferroprivas ou sideropênicas. Quando o paciente chegava ao consultório, os sábios clínicos antigos, examinavam a cor interna das pálpebras e a língua, dizendo: “A língua é o espelho da saúde! “

GEOGRÁFICA OU MIGRATÓRIA

No dorso lingual, podem aparecer uma ou várias áreas despapiladas, carecas, lisas e brilhantes, circundadas por halo branco e avermelhado como um mapa, vários países e fronteiras. Este quadro é a Língua Geográfica e representa a somatização do estresse. Nem todos pacientes aceitam, mas deveriam repensar o tipo de vida e o seu grau de felicidade. De semanas em semanas, as áreas mudam de lugar e também é chamada de Glossite Migratória. Nestas áreas, o sistema imunológico ataca o epitélio da língua e desorganiza e elimina temporariamente as papilas filiformes, permanecendo apenas as fungiformes. Tal como acontece na pele com psoríase, uma doença cutânea que representa também a somatização do estresse.

Ansiedade é o mal do século! Nas consultorias, há muitos casos de Língua Geográfica em crianças, mesmo antes de 5 anos de vida. Sim, crianças vivem um ambiente agitado com mídia e pessoas falando de morte, doença e falta de dinheiro, sem contar que devem cumprir mil tarefas e metas, tal como um adulto!

A Língua Geográfica não dá origem ao câncer, tem poucos sintomas e o tratamento é controlar o estresse e evitar alimentos condimentados. Ela não tem nada a ver com distúrbios estomacais, que também podem ser induzidos pelo estresse, e não representa carência de nenhum nutriente como a língua careca e lisa das anemias. Sua causa é somatização de estresse!

REFLEXÃO FINAL

O corpo envia sinais quando estamos estressados! Estresse diminui a eficiência da inflamação e do sistema imune favorecendo o aparecimento de doenças autoimunes, doenças infecciosas e o aparecimento de neoplasias malignas. Quanto mais cedo aprendermos a linguagem do corpo, menos sofrimento teremos na vida. Aliás, “língua e linguagem” tem tudo a ver!

Alberto Consolaro – professor yitular da USP - FOB-
Bauru-SP - consolaro@uol.com.br