AGENDA CULTURAL

2.11.20

Time de futebol: um bando de endinheirados

 


Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP

Há frases ditas no anonimato que são indícios de uma realidade despercebida. O cronista adora tais pérolas e aprofundá-las no entendimento faz parte de seu ofício.

Na falta de técnico titular no time do Palmeiras e nas derrotas consecutivas,  houve manifestações de torcedores que disseram ser o time um bando de playboys que ficaram ricos com futebol, mas não jogam nada. Referiam-se à "molecada da base", atletas recentemente revelados.

Trata-se de uma visão diferente sobre o problema. Nunca ouvi essa avaliação da  crônica esportiva. Aliás, esse povo da TV, rádio, jornal sobreviveram à pandemia; sem jogos nas arenas e faziam programas e colunas diárias.

 Um bom time de futebol, qualificado, bem estruturado, pagando bem seus jogadores,  é um bando de ricaços correndo atrás de uma bola. Sejam eles brancos, negros ou amarelos. Carros último tipo, cheios de maria-chuteiras, donos de fazendas, posto de combustíveis, hotéis. Os mais ajuizados resolvem os problemas da família.   

Como larguei dessa mania de querer consertar o mundo, não ajeito nem meu cafofo que anda bagunçado, não vou esquentar a cabeça com o futebol, um grande negócio. Torço, fico bravo quando o Verdão perde e me limito a isso. Pareço-me a um Zé Mané, quando o time perde, fico triste.

Nem todos os times brasileiros pagam altos salários. A maioria dos atletas brasileiros, como do exterior, que ganham uma mixaria, são pernas de pau, mas é bem melhor que trabalhar de empregado por aí e ganhar salário mínimo. 

Quando fui secretário municipal de Cultura de Araçatuba, todo mês uma dupla sertaneja do Paraná vinha pedir autorização para tocar na praça Rui Barbosa (vendia CDs), principalmente na semana de pagamento. Num dia, conversa vai, conversa vem, um deles me disse:

- A gente canta, procura caprichar, pois trabalhar no pesado não queremos não!

A velha repetição da fábula A cigarra e a formiga. Alguns vêm ao mundo para trabalhar; outros, estão aqui a passeio, sempre procurando um servicinho mais leve.

O mundo é plural, precisamos respeitar a diversidade, a gente nem sabe por que está nessa Terra. Sai de um buraco, quando menos se espera, é jogado dentro de outro. Pelos menos isso está escrito nos para-choques de caminhão. Aí Bolsonaro lê e faz discurso à nação.

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