As palavras, as atitudes, a moda vão mudando conforme a realidade. Assim aconteceu com o verbo "cancelar", que tinha um significado mais burocrático, como cancelar um cheque ou um espetáculo.
No meu tempo de criança, havia um costume de ficar de mal do coleguinha, estendendo as duas mãos entrelaçadas com as palmas expostas: "Tô de mal!". A alegria era infantil, mas preparava a vida adulta.
Briga de marido e mulher virava geladeira: "Vou deixar o Gérson na secura", dizia a esposa. Isso significava não conversar e outras abstinências. A alegria da convivência era cancelada. A coisa voltava ao normal por acaso, num acidente de uma visita de um amigo ou amiga.
Agora, época de redes sociais, ressurgiu com mais força o verbo "cancelar", não é ser mais amigo ou amiga de Facebook ou Instagram. É quase sinônimo de deletar. Se ficasse apenas na brincadeirinha, não seria maléfico, mas na internet o cancelamento se dá também no nível do preconceito, da intolerância, basta o outro pensar diferente já é motivo de deleção. Exemplo, o BBB21. A alegria da democracia é cancelada.
Cancelar com ódio é quase como matar, dar um tiro na outra pessoa. Viver e deixar o outro também viver é o lema da tolerância, da democracia. Com os diferentes, aprendemos; conviver apenas com os iguais não há enriquecimento algum. A alegria de viver é cancelada.
A internet reviveu um verbo interessante que estava esquecido: compartilhar. Encontrar uma mensagem bonita de paz e amor e dividi-la com alguém. A alegria de repartir é comemorada.
Mas quem atrapalhou bem nossa alegria foi mesmo o coronavírus: por decreto o carnaval no Brasil todo foi proibido. Fato nunca dantes imaginado. A alegria de muitos foi cancelada.
Um comentário:
Que peninha. Vou brincar carnaval no Facebook
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