AGENDA CULTURAL

14.2.21

O esmalte do dente tem vida? - Alberto Consolaro

 

Superfície clínica e microscópica do esmalte, seus cristais e a pérola de esmalte

O esmalte dentário é periquimatoso pela superfície ondulada e microporosa. Os muitos poros da superfície do esmalte se comunicam e se continuam com os espaços intercristalinos (foto) por onde circula o líquido adamantino que promove as trocas iônicas que modificam a sua composição ao longo da vida. O líquido adamantino é um “sangue” ou “seiva” estética que hidrata os cristais e interfaceia com o fluido dentinário que circula subjacente, em uma troca constante entre o meio bucal, o esmalte e a dentina.

O esmalte dentário tem uma circulação própria e um metabolismo muito específico. O esmalte é um tecido vivo, ele tem vida e por isto brilha e encanta! O termo adamantino vem de diamante, uma verdadeira joia da natureza na boca dos humanos. É comum se formar esferas adamantinas nas raízes dentárias ao que se chama, por analogia perfeita, as “pérolas de esmalte”, uma obra de ourives celestial (foto).

VÍRUS TEM VIDA?

O conceito de vida é difícil, mas exemplificar ajuda. Os vírus não seriam formas de vida, pois não têm metabolismo próprio para proliferar, precisa da “maquinaria” das células ou organelas para produzir os componentes que darão origem a milhões de novos vírus. Não é correto dizer que vírus prolifera, vírus reduplica! A vida pode estar ligada à reprodução, mas se a reprodução for critério, as mulas e outros animais híbridos não seriam seres vivos pois não procriam tal como as formigas obreiras. Intrigante isto!

Para ser vida precisa ter Dna ou Rna? Os príons não têm e parecem ser vida. Príons são proteínas que entram nas células, atrapalham o metabolismo levando à sua degradação, seguida de morte. São partículas proteicas infecciosas, cujo anagrama “pro in” do inglês proteinaceous infectious particle, deu o nome a esta molécula que induz a doença da vaca louca ou encefalopatia espongiforme bovina, assim como a doenças neurodegenerativas humanas como a doença de Parkinson e de Alzheimer.

CIRCULAÇÃO

Outro critério para dizer que tem vida é ter circulação de fluidos no meio dos componentes sólidos como acontece com o sangue e a linfa. Isto é importante para levar produtos a serem metabolizados e transformados, assim como para levar os dejetos ou produtos indesejados para fora do organismo. Entre os cristais do esmalte circula o líquido adamantino. Os cabelos e as unhas têm circulação e vida?

MOVIMENTO

Quando alguém está quieto, pessoas ficam observando e quando movimenta logo se diz: está vivo! O movimento, a capacidade de se transformar, de acumular energia e massa seriam critérios da existência de vida. As estrelas fazem tudo isto e ainda pulsam, piscam e emitem energia, como o Sol, a estrela maior. Barata, sapo, carrapato, pulga e morcego são vidas como são vacas, porcos, frangos e peixes. As plantas têm movimentos, então têm vida. Quando matamos animais ou cortamos o pé de uma planta como a alface, estamos tirando uma vida.

Alberto Consolaro

REFLEXÃO FINAL No existencialismo de Sartre, vida apenas existe quando tomamos consciência de nós mesmos, quando sabemos quem somos e qual o nosso papel no contexto que estamos inseridos. Mas, muito tempo antes, Sócrates já afirmava: uma vida sem reflexões, não merece ser vivida. Então reflitamos: qual seu conceito de vida? E como você está levando a vida?

Quanto ao esmalte dentário, ao aplainar, cortar,  
eliminar, alisar, polir, clarear e mudá-lo quimicamente, devemos lembrar que estamos trabalhando em um tecido vivo e o mais duro do corpo humano. 

Alberto Consolaro – Professor Titular da USP - FOB Bauru-SP - consolaro@uol.com.br

Um comentário:

Maria zei disse...

Interessante reflexão ďo sr. ALBERTO CONSOLARO.