AGENDA CULTURAL

18.2.21

O lobo da estepe não anda em alcateias

 

 A disputa entre dois lados da mente pelo domínio de nossas atitudes e pensamentos

Hélio Consolaro*

Não sei se aconteceu com você, caro leitor, de alguém recomendar um autor e lê-lo 50 anos depois. Isso ocorreu com este croniqueiro. Fazendo o Curso de Letras, o professor de Didática José Erasmo Campello gostava muito de Hermann Hess e quase exigia a leitura do livro "O jogo das contas de vidro". Cheguei a comprá-lo, mas alguém me pediu emprestado e se esqueceu de devolver. 

Recentemente li "O lobo da estepe". O livro conta a história de Harry Haller, um outsider, um misantropo de cinquenta anos, alcoólatra e intelectualizado, angustiado e que não vê saída para sua tormentosa condição, autodenominando-se “lobo da estepe”. Mas alguns incidentes inesperados e fantásticos o conduzem lenta, porém decisivamente, ao despertar de seu longo sono: conhece Hermínia, Maria e o músico Pablo. E então a história se desenvolve de forma surpreendente (Wikipedia).

Hermann Hesse (1877-1962) foi um escritor alemão, autor de importantes obras, como, "Lobo da Estepe" e "O Jogo das Contas de Vidro", que resumem a crise espiritual e estética do século XX. Recebeu o Prêmio Nobel de Literatura de 1946. Hermann Karl Hesse nasceu em Calw, Alemanha, no dia 2 de julho de 1877.

O livro "O Lobo da estepe" não é grosso, mas é escrito para iniciados e precisa de persistência para que se vá até o fim da leitura. O livro impresso não ajuda o leitor nem na diagramação gráfica. Lê-lo é quase um troféu de intelectualidade. 

Ele foi escrito depois da Primeira Guerra, 1927, então traz toda a questão existencial para dentro do personagem principal. A sua tese ainda é moderna; na época, Hess sendo um escritor bastante popular, escandalizou seus leitores alemães com "O lobo da estepe", que espinafra a burguesia. O livro tem tanta importância que há um grupo artístico no Brasil chamado "Teatro Mágico" em homenagem à obra de Hermann Hess. A exemplo do nome do autor, suas personagens também têm dois nomes iniciados por H, como Harry Haller.

A burguesia alemã da época se sentiu atingida em sua moral com o livro; a esquerda dizia que ele se limitou ao individualismo, a uma solução existencialista dos problemas. O que mais me chamou a atenção foi um homem de 50 nos querer se suicidar porque era velho demais, não tinha mais a almejar. A longevidade da época era bem menor em relação aos dias atuais. O lobo da estepe não anda em alcateias.

O livro "O lobo da estepe" transformou-se em filme em 1974, que está no YouTube graças a um cine clube; e o filme se concentra na parte após o encontro de Harry Haller com Hermínia, Maria e Pablo, artistas da noite, pois tal parte do livro adapta-se mais à linguagem cinematográfica. 

Há também entrevistas de estudiosos, mesas redondas sobre o livro no YouTube. Existem várias edições do livro no mercado editorial brasileiro, inclusive nos sebos. Após ler o livro, você poderá se classificar como um bom leitor. 

*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Membros das academias de letras de Araçatuba-SP, Andradina-SP e Itaperuna-RJ


Um comentário:

O Mosquento da Rua Primavera disse...

Muito bom, professor. Na minha juventude recebi um livro de Hesse de presente,Roshald, o que me impulsionou a ler outros. DEBAIXO DAS RODAS, O LOBO DA ESTEPE, e outros. É fascinante.