AGENDA CULTURAL

12.4.21

ENTREVISTA: "Araçatuba e região têm potencial para crescer muito depois da pandemia", diz Carlos Farias

Carlos Farias
Para consultor empresarial, poder público e setor privado têm que se unir, antecipar esforços e desenhar desde já cenários propícios para o processo de retomada da economia regional, sem rivalidade política

Estimativas indicam que, passados os maiores impactos da pandemia da Covid-19, a retomada da economia ocorrerá a partir do segundo semestre deste ano. A etapa será de desafios e para que haja crescimento no País é necessário desde já a mobilização de medidas fundamentais para que isso realmente ocorra.

A análise é do consultor em desenvolvimento e negócios Carlos Farias. Currículo para sustentar o que diz ele tem de sobra. Administrador de empresas e bacharel em Direito, ele já foi secretário de Desenvolvimento de Araçatuba e secretário de Governo de Birigui, tendo idealizado e colaborado no PRAEBI (Programa de Retomada das Atividades Econômicas de Birigui), em 2020. 

Nesta entrevista exclusiva para a Folha da Região, Farias fala sobre suas expectativas e sugere ações para que poder público e setor privado trabalhem conjuntamente no enfrentamento da retomada econômica do Noroeste Paulista. 

A economia do Brasil foi intensamente impactada pela crise sanitária da pandemia, provocando impactos sem precedentes também na nossa região. Pela sua experiência em desenvolvimento, como é possível iniciar um processo de retomada da economia regional?

É preciso antecipar esforços e desenhar desde já cenários propícios para o processo de retomada da economia regional. O processo deve ser iniciado com finalidades bem definidas e desprovidas de qualquer ambiência de rivalidade de política partidária.

O momento econômico é crítico e de incertezas devendo prevalecer os objetivos de se construir iniciativas e esforços compartilhados para a real recuperação da produção industrial, reabertura plena das atividades do comércio e serviços, e principalmente do restabelecimento dos empregos que provocaram o grande impacto social nos municípios a partir da pandemia.

O governo nas suas esferas federal, estadual e municipal, empresas e sociedade devem atuar em conjunto, cada um dentro de suas especificidades, identificando os principais gargalos e buscando formas de solucioná-los. É muito importante a participação do setor privado que tem a noção e dimensão do nível de abalo dos negócios no contexto local e regional, e que poderá definir as prioridades dos esforços.

Quais os principais desafios desta retomada no contexto regional?

O desafio inicial é a luta contra o tempo, pois os setores produtivos e que geram empregos precisam respirar e ter acesso urgente aos créditos e financiamentos emergenciais que estão sendo programados pelos governos federal e estadual.

Cada região tem o seu perfil produtivo e de necessidades, e a antecipação desse ordenamento de liberação de créditos é imprescindível para viabilizar resultados em menor tempo. O cenário regional contabiliza muitas baixas de empresas que estão sendo fechadas e desativadas. O apoio financeiro tem que ocorrer rapidamente para amenizar esse grave problema das empresas, assim como do alto desemprego. 

O que devemos esperar dos governos nesse processo de retomada econômica?

O apoio que se espera do governo em suas diversas áreas neste momento de crise econômica é a liberação urgente dos créditos emergenciais necessários para os setores produtivos, principalmente para as pequenas empresas. Há de se avaliar também possibilidades relacionadas aos reparcelamentos de impostos e repactuações de dívidas tributárias.

Dentre os diversos problemas que os municípios estão enfrentando, além das questões de infraestrutura e precariedades na saúde, quais outras deficiências foram evidenciadas nas cidades?

Entendo que precisamos rever urgentemente as estruturas de vigilância sanitária dos nossos municípios. Há de se melhorar as condições e ampliação da prevenção e proteção sanitária conectada aos diversos setores, principalmente os produtivos.

No decorrer da pandemia percebemos com clareza a importância do serviço de vigilância sanitária na estrutura de saúde municipal. Numa região em que temos um polo exponencial alimentício e do agronegócio as questões de segurança alimentar já apontadas há muito tempo pela ONU (Organização das Nações Unidas), por meio da FAO, seu braço que prioriza a alimentação e agricultura no mundo, merece priorizar mais investimentos em pessoal técnico, equipamentos, treinamentos e outras melhorias para o funcionamento da vigilância sanitária valorizando mais ainda os diferenciais dos nossos municípios.

Apesar dos grandes desafios nessa retomada, há perspectivas positivas para o Noroeste Paulista?

Acredito num crescimento muito significativo para Araçatuba e região a partir da amenização dos impactos da pandemia. Me baseio nos investimentos e empreendimentos que não abortaram, mantendo os seus projetos mesmo neste momento de crise em Araçatuba. Empreendimentos imobiliários, turísticos, complexos atacadistas, hipermercados, unidades distribuidoras de máquinas e implementos agrícolas, novas redes de franquias,  e outros diversos negócios deram continuidade em suas inaugurações e lançamentos, mesmo com o contraste de baixas de empresas afetadas pela crise da saúde. 

A afirmação técnica e de investidores, do qual compactuo, é que Araçatuba e a região possuem capacidade ociosa com potencial importante de oportunidades a serem explorados nos próximos anos. Os reposicionamentos dos novos investimentos serão pautados por padrões de mais segurança e de qualidade de vida nos quais as condicionantes positivas das cidades do interior bem estruturadas e não saturadas do ponto de vista de ocupação territorial urbana estarão nas prioridades dos novos projetos.

Temos que considerar que as referências regionais do agronegócio em toda a sua extensão, os insumos importantes e disponíveis de água e energia, os polos consolidados do setor alimentício, sucroalcooleiro, metal mecânico, calçadista, moveleiro e outros que compõem a estrutura de competitividade regional ficarão mais valorizados nessa nova reflexão mundial de produção e de sobrevivência humana. Estou falando de água, alimento, energia e qualidade de vida. Temos tudo isso aqui na região. 

Como consultor em desenvolvimento e negócios, qual caminho para a superação e termos avanços positivos na economia e na questão social? 

O PIB (Produto Interno Bruto) é um indicador econômico que representa a performance econômica local e regional. Apesar de todos os referenciais positivos que citamos e que a região dispõe em sua abrangência, o PIB regional de Araçatuba permanece numa posição abaixo da expectativa no ranking estadual quando comparado a outras regiões. Precisamos e temos como concentrar esforços para mudar e elevar esse posicionamento utilizando estratégias de exploração das potencialidades regionais na etapa pós-crise da pandemia. E, em falando em exploração de potencialidade, destaco aqui o extraordinário potencial turístico regional. É assim que vamos encontrar um caminho de crescimento e de progresso contínuos que promoverão estabilidade econômica e social.

O senhor sempre esteve ligado à questão do desenvolvimento organizacional e profissional. Como vê o preparo das organizações e dos profissionais aos novos tempos?

Observo muita desenvoltura no processo organizacional e profissional da região com adventos de tecnologia e inovação. Os avanços são significantes e os investimentos em novas tecnologias estão sendo realizados com muita velocidade nos setores corporativos acirrados pela concorrência e competitividade. A tecnologia atualmente é o combustível principal nos sistemas organizacionais, e a região vem investindo significativamente e obtendo resultados.

No campo profissional as adaptações estão presentes em todos os níveis de funções e de empreendedorismo pelo acesso universal aos equipamentos e processos tecnológicos. As atividades e demandas profissionais e de serviços aceleraram ainda mais esse processo de mudanças por meio da pandemia, e percebo que isso está presente na rotina dos nossos municípios.

Qual dica o senhor pode dar, como consultor, a quem quer empreender, seja no comércio ou na carreira?

A região de Araçatuba oferece oportunidades, e a devida preparação e formação devem estar condizentes com as estruturas aqui disponíveis nas atividades do comércio, dos serviços e da indústria regional. Buscar informações detalhadas e conhecimentos do cenário produtivo regional tende a facilitar o êxito da viabilização profissional ou do empreendedorismo.

(Entrevista publicada em 11/04/2021 - jornal Folha da Região de Araçatuba-SP)

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