AGENDA CULTURAL

16.4.21

Vingou-se dando uma flor

 


*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP

Crianças provocam fatos surpreendentes. De repente, tudo que seria tão prosaico, ganha dimensões poéticas, encantadoras.

Minha filha fez novo arranjo da sala de aula em sua casa para que seus quatro filhos tivessem atividades on-line. E chegou em casa me pedindo quatro vasos de plantas para enfeitar o ambiente de estudos dos netos.

Como sei que lá não são chegados aos cuidados diários das plantas, mandei duas suculentas, uma bromélia e outra que era uma pimenteira. Ouvi os resmungos pelo zap. 

- Não tinha coisa mais feia para me dar? - disse Elis. 

A avó do outro lado da família, que é uma das vizinhas, até mandou jogá-la no lixo.

- Muito feia!

Mas não fizeram a desfeita por respeito ao avô bonitão. Não sei onde há beleza aqui, mas respeito a opinião. Afinal uma massagem de ego faz sempre bem. 

E tocamos a vida em frente.

Depois de alguns dias, o zap me surpreende com uma plantinha e sua flor, mirradinha, mas flor. A mais feia, a que devia ser jogada no lixo, mandou uma bala perdida  em forma de flor para se vingar de tal desaforo. E foi alegria geral!

- A plantinha da Elis deu flor! - escreveu a Hélen. 

Alguma coisa me falava que aquelas quatro feiosas iam me reservar alguma alegria. Até me lembrei da história do Patinho Feio e do menino desajeitado que sofre bulling na escola.

A tal plantinha foi comprada para compor arranjos. Depois vou tirando mudas e passando para amigos, mas a fulaninha nunca havia florido no meu quintal. Avareza total. 

Houve várias interpretações para tal fenômeno, sempre as mais românticas. Este avô, escolado pela vida, chegou à conclusão de que não jogaram muita água na coitadinha e ela voltou às condições de seu habitat natural. E floriu!  

Na vida, bons tratos nem sempre são bons tratos. É bom ler o manual, pois a tal bromélia (é o nome da plantinha) não precisa de muita água. 

Um comentário:

Unknown disse...

Gosto muito dos seus textos suas Crônicas de tudo que você escreve. Esse pequeno grão de areia analfabeto gosta de escritores povão. Também leio os outros escritores, mas os seus textos Eu leio com muito prazer. Boa noite