AGENDA CULTURAL

15.4.21

Futebol só pensa em grana, mas não precisa ser só isso

Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Araçatuba-SP

Nunca imaginei que, quando ficasse velhinho, vacinado, teria certos comportamentos durante o jogo da Recopa entre o Defensa y Justicia x Palmeiras. Nenhum preconceito com argentinos, nem desprezo por times pequenos.

A Conmebol e as tevês brasileira brigaram, não se acertaram, pois preferem transmitir um jogo da série B e deixam uma decisão da tal Recopa invisível, sem transmissão.

A briga deve ter sido assim:

CONMEBOL: o futebol é meu, sem jogo não TV transmitindo.

EMPRESAS PROPRIETÁRIAS DE TV: o jogo é de vocês, mas não for transmitido, se o povo não ficar sabendo, o futebol vira um evento anônimo.

Nessa briga toda, os torcedores ficam de lado, como massa de manobra. Isolamento social e fique em casa não valem nada, pois querem só saber de grana, isso a gente sabe, mas um pouco de respeito com os torcedores faz bem.

Na quarta-feira à noite, a Globo só passava jogo do Corinthians, agora, nem isso. Passa filme.

Por causa dessa briga de direito de imagem, vi o Grêmio, de Renato Gaúcho, ser desclassificado da Libertadores, mas não vi (ou vi pela metade) o meu Palmeiras perder feio também. Que saudade do monopólio da Rede Globo...

Os argentinos estão escolados. Nossos times ganham deles lá, por isso vêm envenenados no jogo de volta no Brasil. Certamente, o Defensa gritou: "Não somos River Plate". E não foram mesmo.

A Conmebol quer que o torcedor assine o seu canal de TV para ver os jogos da entidade: "Quer lazer? Tem que pagar!" Paga aqui, paga ali, no final do mês televisão e internet engolem o seu estrato do cartão de crédito. Decidi-me assistir pela narração escrita. Placar Uol, por exemplo.

A hora do jogo foi chegando e eu ansioso querendo ver o jogo. Facebook e YuoTube nada. Constantemente aparecia um canal pirata com voz dizendo: "Compartilhem para que a imagem não interrompa". Não havia nem como compartilhar, e a imagem ia embora. Gambiarra famosa de brasileiro.

Jovens abriam transmissões clandestinas, de repente diziam que precisava encerrar por causa dos direitos autorais. No fim, assisti boa parte do jogo com imagem virada, porque assim conseguiam fugir dos tais dos direitos autorais. Só para ter uma ideia do desespero, caro leitor, essa gambiarra teve 46 mil telespectadores.

Se o poder público entra para organizar o galinheiro, os neoliberais dizem que é estatismo, querem estado de menos. Aí fica na livre concorrência, que precisa ser livre, mas nem tanto, e a população se danando (como não sou bolsonarista, não vou falar palavrão aqui). 

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