AGENDA CULTURAL

3.6.21

Seminário dos ratos: livro sobre um mundo perdido

 

Capa do livro

Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP

Fui escalado pela Academia Araçatubense de Letras a falar sobre um conto no clube do livro da entidade a que pertenço, diante da relação de títulos exposta escolhi "Seminário dos Ratos", de Lygia Fagundes Teles, conhecida como a dama da literatura brasileira.

Este conto dá nome à coletânea de contos publicada em 1977, onde há 14 narrativas, sendo a última o conto escolhido por este cronista. Como vivi na carne os efeitos nefastos da ditadura militar, inicialmente achei o conto insosso. 

Fazer uma exposição sobre o conto "Seminário dos ratos" sem conhecer a obra onde está inserido seria uma temeridade, fui ler o livro em edição digital da Companhia das Letras (não é PDF) adquirida na Amazon. Edição de papel: 173 páginas.

A obra apresenta os seguintes contos: As formigas, Senhor diretor, Tigrela, Herbarium, A sauna, Pomba enamorada ou uma história de amor, WM, Lua crescente em Amsterdã, A mão no ombro, A presença, Noturno amarelo, A consulta, Seminário dos ratos. Quase todos narrados em primeira pessoa. 

Se eu fosse relacionar as obras de Lygia e os prêmios recebidos, eu iria tornar esta resenha quilométrica. Ela nasceu em 19 de abril de 1923, portanto está com 98 anos, é membro da Academia Brasileira de Letras desde 1987. Nasceu e ainda vive na cidade de São Paulo, é uma escritora paulistana. Suas obras foram traduzidas em várias línguas. Tenha mais informações no site da ABL, aqui lincado.

Ao ler o livro todo, o conto "Seminário dos ratos" ganha mais sentido, pois faz parte de uma obra que trabalha a temática homem x poder numa realidade tóxica. E apenas a última narrativa traz a política para dentro do livro, já que o poder está em toda a sociedade, até o mendigo é portador de poder.

1977 (ano da publicação do livro), o presidente da República era o general Ernesto Geisel, início do afrouxamento da ditadura. Em 1976, Belchior grava o seu LP "Alucinação", a contracultura estava se impondo no cenário mundial. Esse contexto reflete na linguagem e nos temas do livro "Seminário dos ratos".

Os contos apresentam uma linguagem gelada, contida, às vezes, hermética, chamada por alguns de realismo fantástico. O livro apresenta um mundo perdido, de pernas para o ar, carregado de depressão. Suas personagens são pessoas com problemas existenciais, voltadas para os conflitos insolúveis. A autora trabalha com o mistério (não no sentido religioso)  e pequenas revelações.

Neste contexto, o livro se propõe a desfilar os problemas da época, não poderia deixar de lado a questão política. Assim "Seminário dos ratos", apresenta personagens fictícias da Revolução de 1932 e do Golpe de 1964, envolvidos num clima tóxico de irresponsabilidades sociais. 

Quem quiser a resenha de cada conto, acesse o Instituto Claro, lincado nesta página. 

Divulgar Lygia, escritora mulher, e ainda uma literata paulista, sempre me alegra. Com certeza, o Criador anda lendo e gosta de suas obras, pois tem uma vida longeva para publicar muitos livros. 

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