AGENDA CULTURAL

6.12.21

A história continuará a ser contada - Antônio Reis*

A Internet criou muitas atividades econômicas e gerou empregos, mas o contrário também é verdadeiro. E uma das atividades mais afetadas são os jornais impressos, que não estão resistindo ao avanço da tecnologia. Nos meios especializados, essas dificuldades passaram a ser chamadas de “crise do impresso”.

O mais recente jornal a desaparecer foi o “Agora SP”, uma publicação com ênfase na prestação de serviços, em especial ao estrato mais idoso da população, com ótimas matérias e orientações sobre aposentadoria. O recém-desaparecido havia sido criado para substituir a Folha da Tarde, um projeto de modernização do Grupo Folha de S. Paulo.

O desaparecimento de jornais nem sempre esteve associado à Internet, mas é inegável que depois do aparecimento da rede mundial de computadores o segmento perdeu força. Alguns jornais continuam a fornecer notícias em sites, mas são incapazes de manter 100% da mão-de-obra que labutava no impresso.

Há 25 anos, Araçatuba possuía quatro jornais diários: “A Comarca”, “Folha da Região”, “Jornal da Cidade” e “Folha da Manhã”. Todos desapareceram, exceto a Folha da Região que continua na versão eletrônica. Atualmente, a cidade só tem “O Liberal Regional” circulando no papel.

Os cinco jornais citados foram minha escola, mas comecei meu ganha pão como jornaleiro e tive oportunidade de acompanhar o surgimento, o desaparecimento e a modernização de jornais. Nos anos 1970 era inimaginável a extinção do “Notícias Populares” e da “Gazeta Esportiva”, dado a aceitação popular. O primeiro, policial e sensacionalista e o segundo, dispensa explicação. Ambos deixaram de circular em 2001.

O centenário “Jornal do Brasil (JB)”, que se gabava de ser o primeiro do País 100% on-line, parou de entregar o papel em 2010, voltou em 2018 e no ano seguinte novamente passou a ser só eletrônico. Os vespertinos “Folha da Tarde (FT)” e “Jornal da Tarde (JT)” sucumbiram em 1999 e 2012.

O maçante “Gazeta Mercantil”, especializado em economia e finanças, parou em 2017. Do JB às Gazetas, muitos diários e semanários quebraram por motivos diversos. Entretanto, na imprensa nanica, onde pululavam “porras-loucas”, nasciam e morriam impressos, geralmente tabloides (28 x 43cm), quase todos os dias.

Entre os nanicos, “O Pasquim” teve vida longa (1969-1991), fez história e é considerado patrimônio da cultura nacional. No ano de 1979, o porreta “Jornal da República” foi um projeto natimorto (apenas 124 edições), uma pena, pois suas páginas tinham ninguém mais do que Mino Carta, Cláudio Abramo, Paulo Sérgio Pinheiro, Aloysio Biondi, Hélio Bicudo e Ricardo Kotscho (seis nomes que explicam o JR).

A Internet acentuou crises em um País que não tem o hábito da leitura diária. Em 1999, para reduzir custos, os jornais diminuíram a largura de 34,29cm para 31,75 (a altura continuou a mesma: 56 cm). Segundo a Associação Nacional de Jornais (ANJ), das quase 500 mil toneladas de papel-jornal consumidas no País por ano, três quartos são importadas. E o pagamento é em dólar (mesmo problema da gasolina).

Em outubro passado, o poderoso “O Estado de S. Paulo”, o Estadão, virou Estadinho. Deixou de ser standard (56 x 31,75cm) e passou a ser berlinder (31,5 x 47cm). A “Folha de S. Paulo” e outros jornalões resistem, mas há quem garante ser apenas questão de tempo. Os títulos citados são pequena mostra envolvendo veículos de circulação nacional, pois a devassa é grande Brasilzão afora.

Os jornalistas “vítimas da crise do impresso” se adaptaram ao admirável mundo novo, em sites de notícias ou outras mídias eletrônicas. E isso é o que importa: não interessa o meio, o importante é que a história continue a ser contada. 



*Antônio Reis 

Jornalista e ativista do Grupo Experimental da Academia Araçatubense de Letras 

Um comentário:

Brito disse...

Parabéns pelo belo artigo