Um pega e o outro não - Alberto Consolaro

 

Célula em vermelho sendo atacada e será destruída pelas células NK ou assassinas naturais em verde!

Casal ou pais com filhos que moram juntos não se têm os mesmos hábitos de higiene, uso de máscaras, isolamento, limpeza com álcool gel e contatos pessoais. O tempo de exposição ao vírus e os locais com que frequentam são diferentes. O tempo de dormir, alimentação e respiração, quase tudo difere.

Vamos viajar e imaginar que duas pessoas juntas teriam tudo igual em suas vidas nos últimos dois anos! O sistema imunológico não é o mesmo nas duas pessoas, pois sua maturação e funcionamento está condicionado ao tipo de ambiente e estímulos a que foi submetido desde os momentos intrauterinos de vida.

ESSE TAL SISTEMA

Onde fica o sistema imunológico? São os linfonodos que quando inflamam chamam de íngua. As tonsilas fazem parte dele, junto com o baço, medula óssea e o timo. A maioria das células imunológicas estão fora destes locais e ficam circulando o tempo todo em todas as partes do corpo para detectar coisas estranhas a acontecer.

Os anticorpos e outras substâncias produzidas por essas células circulam da mesma forma e reagem quando precisam. Fala-se muito em anticorpos ou imunoglobulinas que atuam nos vírus. Podemos dizer que as técnicas para avaliar a quantidade e tipos de anticorpos são mais “fáceis” ou padronizadas. Esse lado ou forma de agir do sistema imunológico se chama imunidade humoral.

No entanto, o sistema imunológico tem um outro lado e que, talvez possa ser, muito mais eficiente que a imunidade humoral nas viroses. Esse lado, na maioria dos casos, é menos conhecido pelas pessoas e é executado por células diretamente e, por isso, chamada de imunidade celular.

As células imunológicas são macrófagos, linfócitos e plasmócitos. A medula óssea a cada hora joga 10 milhões de linfócitos no sangue. Um grama de linfonodo tem 2 bilhões de linfócitos. Imaginem isto em euros! Se quero avaliar a imunidade humoral é fácil, mas os testes ou exames da imunidade celular são mais difíceis. Os testes da covid não usam a imunidade celular!

CÉLULAS ASSASSINAS

Entre os linfócitos circulantes há um clone de células chamadas de Assassinas Naturais ou “Natural Killers” ou NK. Elas matam sem dó, são matadores profissionais. Se desconfiar que qualquer célula é estranha no corpo, elas trucidam na hora, fulminante e isso acontece com células de transplantes, cânceres e células com vírus no seu interior. As demais células fagocitam e limpam os restos mortais. Parece cena de filmes de ação. As células NK têm permissão para matar sem processo ou julgamento, e sem pedir a identidade das células suspeitas, fulminam impiedosamente.

Se essas células assassinas profissionais falharem teremos cânceres ou células com vírus sobrevivendo dentro de nós, apesar dos anticorpos. Para um transplante dar certo, temos que diminuir e inibir estas células NK, senão elas acabam com o órgão inserido no corpo, ou seja, tem que imunodeprimir o paciente.

Quando uma pessoa pega covid e a outra não, sob o mesmo teto, muitos estudiosos estão especulando que a culpa seja das células assassinas naturais. Em certas pessoas matam de primeira e sem dó as células com coronavírus, sem dar tempo de nada, nem de produzir anticorpos e nem aparecer nos testes!

Os vírus deixam pegadas identificáveis na parte externa das células contaminadas. Nas pessoas que pegam, as células NK falhariam e tardariam em agir, dando tempo do coronavírus multiplicarem dentro das células, da doença se instalar e do nosso corpo formar anticorpos! Mas não temos testes ou métodos para desvendar isto ainda.

RELFEXÃO FINAL

A que ponto que chegamos: Oremos, para que as células assassinas sejam

competentes! 

 Alberto Consolaro - professor titular
pela USP - consolaro@uol.com.br