AGENDA CULTURAL

9.7.22

Como o estresse mental debilita - Alberto Consolaro

 

O estresse mental prioriza as funções relacionadas a sobrevivência e deixam as demais, subfuncionais!

Você decide como quer levar a vida! O ser humano foi feito para viver no paraíso, andando por aí sem se preocupar com metas e contas. Sem relações inconstantes e imprevisíveis, sem pensar no amanhã e no acúmulo de bens ou dinheiro que nem existia. No paraíso não havia previdência social, salário, poder e outras babaquices modernas como competitividade, redes sociais, carros e aviões.

No corpo havia a harmonia entre os órgãos e tecidos, o equilíbrio dos hormônios e a supressão da fome assim que aparecesse. Mas, mesmo assim, o arquiteto do projeto humano nos providenciou um sistema de defesa contra os imprevistos, surpresas e os inconvenientes. Se aparecesse alguma fera a nos atacar, subitamente um precipício ou até um temporal com raios com necessidade de uma caverna, teríamos e ainda temos, como nos defender.

Frente a uma fera faminta ou assustada, os nossos sentidos comunicam ao cérebro o perigo e imediatamente libera hormônios e estímulos neurais para o corpo com as seguintes mensagens bioquímicas: - Esqueçam todas as funções harmoniosas, dispensem as reflexões e abstrações, precisamos sobreviver e para isto devemos priorizar os sentidos para captar, o coração e vasos para nutrir e os músculos para lutar ou fugir!

E as demais partes do corpo ficavam todas em segundo plano, apenas funcionariam com o mínimo gasto energético e de sangue. O sistema imunológico, a inflamação e outros sistemas não eram prioritários na emergência e ficavam subfuncionais. Para encontrar uma fera irada no paraíso era muito raro, talvez uma vez ao ano! Da mesma forma, topar com um precipício ou tempestade, eram eventos e situações incomuns.

 COMO SE FAZ ESTRESSE?

Até prova contrária, o ser humano continua sendo igual ao do paraíso, só que encontramos feras iradas todos os dias na forma de boletos, chefes chatos, trânsito, assaltos, metas, atrasos, ameaças, estupros e outras mil situações. Em outras palavras, temos estresse mental todos os dias ou horas.

Agora, todos os dias, nosso corpo prioriza as situações de estresse mental para sairmos do perigo. Todos os dias, o sistema imunológico e a inflamação ficam subfuncionais para atender a demanda de resposta frente ao perigo. Assim ficam em segundo plano as reflexões, abstrações, romantismo, gentilezas, pele, emoções agradáveis e mil outras coisas que precisam da calmaria dos dias para a qual fomos projetados.

Sem sistemas imunológico e inflamatório eficientes: 

1º)- As células de defesa e os seus produtos, como os anticorpos e citocinas, podem ser insuficientes para controlar as doenças infecciosas que nos rodeiam todos os dias. E tomemos viroses, impetigos, pneumonias, micoses e parasitoses. 

2º)- Não teremos o time completo de células imunológicas vigilantes sempre alertas como as células NK. As células do corpo que proliferam aos milhões todos os dias, dão origem a muitas delas defeituosas que não serão todas reconhecidas e destruídas. Sobreviverão e podem ganhar autonomia e dar origem a clones independentes conhecidos como neoplasias malignas ou cânceres.

REFLEXÃO FINAL

O estresse mental diário nos enfraquece e perdemos o controle sobre os sistemas imunológico e inflamatório. Isto acontece quando todos os dias, por longas semanas, meses ou anos, enfrentamos feras iradas. Por isto que devemos construir uma vida de calmaria e contemplação do mundo que nos cerca! Mas tem gente que briga com o mundo, e com todo mundo, todos os dias. Os inimigos, dívidas e frustações devem ser evitados com autoconhecimento e humildade frente ao universo. Se este texto fosse uma oração de alguma religião, eu terminaria assim: 

- Esse é o caminho da salvação! 

Alberto Consolaro  

Professor Titular da USP  
FOB de Bauru
consolaro@uol.com.br

 

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