Um dois mais inspirados compositores de MPB (Música Pra-pular Brasileira), Paulo Diniz ensinou que nada melhor para relaxar do que um chope no fim da tarde. O cantor de voz rouca e letras geralmente divertidas foi embora pra Pasárgada em junho, quando contava 82 anos, mas seu conselho permanece vivo e necessário.
O desaparecimento do pernambucano de Pesqueira passou despercebido pela “grande mídia”, como foram seus últimos anos, intercalados de isolamento e lançamentos de alguns trabalhos, sempre com o suingue que o caracterizou em quase 60 anos de música, com mais de uma dezena de álbuns, a maioria dos anos 1970.
Os maiores sucessos foram “Pingos de amor” e “Quero voltar pra Bahia”, ambos gravadas também por muitos intérpretes da MPBdoB (a nova música do Brasil), na definição de Solano Ribeiro (Rádio Cultura/Fundação Padre Anchieta). A segunda é uma homenagem a Caetano Veloso e Gilberto Gil, quando estavam exilados em Londres: “I don't want to stay here/I want to go back to Bahia/De repente ficou frio, eu não vim aqui para ser feliz/Cadê o meu sol dourado, cadê as coisas do meu país?”.
A música suingada do pernambucano explorou muitos ritmos: samba, soul, xote, gafieira, baião, balada, embolada, calango, ciranda, jovem guarda. Passou pelo forrock, discojeca e funkandomblé misturando o caipirês ao inglês: “It's not mole não, don’t have condição/Depois que a gente vai embora pro estrangeiro/Que se amunta no dinheiro, o negócio é chaleirar/Eu só volto à terra, pra curtir minhas estafas/Que nem diz Frank Sinatra, não vou dá colher de chá”.
Paralelo ao deboche, Paulo Diniz ousou ao musicar versos de Carlos Drummond de Andrade (José), Ferreira Gullar (Bela Bela, fragmento de Poema Sujo), Jorge de Lima (Essa Nega Fulô), Manuel Bandeira (Vou-me embora pra Pasárgada), Affonso Romano de Sant’Anna (Poema ao Presidente), Gregório de Matos (Foi Bonito, fragmento) e Gonçalves Dias (Canção do Exílio, em ritmo de samba). Do próprio compositor é “Janira”, uma poesia à parte.
Não obstante sua discrição sobre temas “espinhosos”, o artista foi vítima da censura no regime da ignorância fardada. Paulo Diniz foi pra Pasárgada e o “Brasil, Brasa, Braseiro” passa por dias muito tensos, dias de decisão e de definição do futuro, o que torna necessário “Um chope pra distrair”.
(*) Antônio Soares dos Reis é jornalista em Araçatuba e ativista do Grupo Experimental (GE) da Academia Araçatubense de Letras (AAL)
antonio.reis.jornalista@gmail.com
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