Cuidado com pesquisas que dizem que algum produto tem 100% ou 99,9% de efeito e nem citam as fontes dos dados |
Os resultados próximos a 100% geram muita desconfiança na ciência e reduz a credibilidade de quem está tentando convencer. Quando se diz resultado de 99,9%, aí parece que estão forçando uma barra danada.
Os franceses adoram falar que a unanimidade
é burra, pois a diversidade é inerente ao mundo em que vivemos em todos os
níveis, desde o microscópico até os vulcões, mares e montanhas. A variedade e
variabilidade também são próprias dos animais e vegetais, sem falar dos
minerais. É óbvio que os seres humanos também entram nesta história!
Em anúncios de liquidação na internet ou
presencial com índices de desconto tão altos quanto assustadores, lembre-se que
ninguém vende sem lucrar! Todo mundo sabe disto, mas ainda tem gente que gosta
de ser induzida a pensar que está levando vantagem em alguma promoção desta
natureza. Não se iludam!
EMBALAGENS
Não sei quando este hábito começou, mas
leio rótulos com as informações de tudo que consumo como fabricante,
composição, registros e datas de validade. Da pandemia para cá, aumentou muito
as embalagens de produtos de limpeza e higiene pessoal com carimbos, escudos e
armas com caveiras, dizendo em letras garrafais que mata 99,9% das bactérias,
vírus ou microrganismos.
Quem não tem o hábito de ler e conferir
rótulos fica impressionado e acredita que aquilo seja uma verdade absoluta,
sendo que no máximo, é uma verdade relativa ou tendenciosa. Em cima do 99,9%*
vem um asterisco que remete a um local bem discreto do rótulo com letras bem
pequenas quando se esclarece que este resultado foi obtido em laboratórios
independentes, sem mencioná-los, e utilizando de um só tipo de bactéria ou de
vírus em culturas.
Traduzindo: uma só espécie de bactéria ou
vírus foi testada em laboratório com aquela substância acrescentada ao produto
como princípio ativo e, no método de contagem escolhido, observou quase
ausência de crescimento destas bactérias ou vírus. É um resultado muito frágil
para dizer que o produto elimina, ou as vezes escrevem que “esterilizam”, 99,9%
das bactérias da boca, pele, olhos ou móveis. Nestes locais tem centenas de
espécies de bactérias, vírus, fungos e parasitas.
Eu fico desconfiado e não compro. Bem que
poderiam dizer que são antissépticos, que reduz a carga bacteriana ou
microbiana, mas 99,9% é muito pesado. Ainda mais, porque no rótulo não citam os
laboratórios independentes e nem citam em quais revistas científicas foram
publicados os resultados.
MUDARAM
Houve um tempo que os produtos traziam
afirmações como “cientificamente comprovado” e felizmente isto foi abandonado, pois a ciência não tem finalidade comercial e nem representantes que pudessem
checar destes dados. Atualmente usam afirmações mais genéricas como
“dermatologicamente testados” ou “recomendados pelos médicos” ou ainda
“aprovado por cirurgiões dentistas”.
Seria interessante saber o registro dos médicos e ou dos cirurgiões
dentistas que aprovaram estas recomendações.
Destaca-se que em alguns rótulos e
embalagens vem escrito que o produto não foi testado em animais apesar de não
indicarem quem auditou este processo, mas é um ganho relevante. Ou ainda que as
plantas que forneceram aquele produto foram cultivadas e manuseadas em solos
sem agrotóxicos e associados a reflorestamento ou não desmatamento.
REFLEXÃO FINAL
Acreditar que um produto de beleza, de limpeza e de higiene pessoal reduza 99,9% das bactérias ou vírus, como está destacado na embalagem, é a mesma coisa que esperar sexta feira para comprar em uma loja virtual ou presencial, porque produtos estarão com desconto de 99,9%. Só quando você entrar no site ou na loja vai descobrir que este desconto vale apenas para aquele celular daquela marca e que só tem 3 peças disponíveis no estoque! Aliás, tinha!
Professor Titular da USP
FOB de Bauru
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