Não sendo bom o bastante - Gervásio Antônio Consolaro

Girl Before a Mirror,
de Pablo Picasso  

Quando eu ganhei o Oscar, eu pensei que fosse um engano. Eu pensei que logo iriam descobrir e iriam tomá-lo de volta. Iriam até minha casa, bateriam à porta e falariam: "Desculpe, mas deveríamos dar isso à outra pessoa. Esse iria para a Meryl Streep." — Jodie Foster

Você se pergunta: "Por que alguém me veria de novo em um filme? Eu nem sei atuar, então por que estou fazendo isso?’ " — Meryl Streep

     Você se sente como se não fosse bom o bastante? Adivinha só! Você não é o único. No outro dia eu escrevi o seguinte para um amigo blogueiro: 

- Há muitos tópicos sobre os quais eu poderia escrever, mas já existem tanto livros por aí. Às vezes me pergunto: ‘Qual o propósito?

    Ele me respondeu:

-Eu conheço essa sensação de "qual é o propósito?". Tudo que merece ser dito já foi dito. E, de certa forma, quem sou eu para escrever sobre isso? O que eu já conquistei até o momento? Bem... Eu acho que isso é natural. 

Bom saber que não somos os únicos enfrentando isso.

Sejamos ou não cientes disso, milhões de pessoas sentem-se da mesma forma. A sensação de “não ser bom o bastante” já deve ter aniquilado mais sonhos do que qualquer outra coisa. E quem nunca se sentiu assim? A seguir uma lista (nem um pouco cansativa) de como eu me senti na vida:  

Eu não sou um escritor bom o bastante  
Eu não sou carismático o bastante  
Eu não sou competente o bastante 
Eu não sou confiante o bastante 
Eu não sou corajoso o bastante 
Eu não sou disciplinado o bastante 
Eu não sou bom o bastante para falar em público 
Eu não sou bonito o bastante 
Eu não sou inspirador o bastante 
Eu não sou interessante o bastante  Eu não faço dinheiro o bastante 
Eu não sou musculoso o bastante 
Eu não sou paciente o bastante 
Eu não sou perseverante o bastante 
Eu não sou proativo o bastante
E eu poderia seguir com isso.

As pessoas, que se sentem como se não fossem boas o bastante, tendem a ter uma baixa autoestima. Elas se focam no que elas não são boas enquanto excluem todas as demais coisas em que elas são boas. Ao tentar elogiá-las, tudo que receberá será um “Não foi nada demais.” Ou pior, elas até podem achar que você está apenas sendo educado, ou que está tentando manipulá-las. Essas pessoas têm dificuldades em aceitar elogios.  Ao invés de um simples obrigado, elas retornam o elogio, ou menosprezam o papel que desempenharam. Talvez você esteja agindo da mesma forma? Veja se adota alguns dos seguintes comportamentos ao receber um elogio: 

1. Rejeita a situação toda como não tendo importância: “Qualquer um poderia ter feito.”

2. Fala sobre todas as coisas que fez de errado enquanto explica o que poderia ter feito para melhorar. 

3. Tenta retribuir o elogio: “Obrigado. Acho que você também fez um trabalho excelente.” Perceba a sua incapacidade de aceitar um elogio por completo nos três casos acima.

Ao menos, a certeza de nunca ser bom o bastante lhe dá uma certa segurança.

Imagine o que aconteceria se você se libertasse desse apego à sua própria história, tentasse algo que você sempre quis e por fim falhasse.

Então, algo que você sempre desconfiou agora se provaria verdade: que você não é bom o bastante. Ou pior, o que aconteceria se fosse bem-sucedido? Como isso se adequaria à sua própria história?

Lembre-se de que o seu cérebro tem um viés em relação à negatividade. Incutir o seu próprio viés, com certeza não lhe ajudará a se sentir melhor consigo mesmo. A verdade é que você faz bem a maioria das coisas que se propõe a fazer. Apesar de lhe faltar experiência, interesse, ou talento que possa explicar o motivo de não se dar tão bem quanto desejava em algumas áreas, isso nada tem a ver como “não sendo bom o bastante”. .  

Gervásio Antônio Consolaro, diretor da AFRESP, ex-delegado regional tributário, auditor fiscal da receita estadual aposentado, formado em administração, ciências contábeis e bacharel em Direito.                      g.consolaro@yahoo.com.br