AGENDA CULTURAL

4.1.23

As pedras rolam rio abaixo

 

Magaly Pedroso Corrêa

Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP

A vida não é fácil, principalmente para quem a leva muito a sério. Ela deve ser vivida  sem drama, com  amor, solidariedade e gratidão. Como canta Zeca Pagodinho: "deixa a vida me levar".

E assim vou vivendo minhas horas, quando de repente a companheira Zilma, de Rotary, me telefona:

- Hélio, a Magaly Corrêa, viúva do Jorge Corrêa, aquele que é patrono de escola em Araçatuba, quer escrever um livro. Eu indiquei você para editá-lo.  

- O quê? Ela está viva? - respondi imediatamente.

- Sim, com mais de 90 anos!

Fiquei pasmo ao telefone. Zilma insistiu, gritou alô. Pensei: "Acho que me esqueci de assinar o exame de segunda época!" - pensei. Leia mais à frente, você vai entender, caro leitor.   

- Obrigado pela indicação. Mas você sabe, Zilma, Magali foi minha professora de Francês no IE? 

Conversa vai, conversa vem. Após uma semana, estava eu, um sujeito idoso, na casa de Dona Magali, minha professora de ginásio. As pedras se encontram, bastam acompanhar a correnteza dos rios, não cair em poças.  

Não é que aquela bela mestra continua bela! Você, caro leitor, veja a foto desta crônica, atual, sem maquiagem nem photoshop, registrada por um celular.

Fui aluno dela no ano após a morte de seu marido (1962), Jorge Corrêa. Eu, um garoto oficce boy, período noturno, morador do bairro Santana (equivalente ao bairro São José de hoje), que mal sabia o idioma português, fiquei de segunda época em Francês. Férias perdidas, janeiro todo estudando para o exame da segunda chance.

Em nossa atual conversa, Magaly Pedroso Corrêa me disse que não deixava ninguém de segunda época, mas eu fui exceção, devia ser ruim demais, não cumpria nem as exigências básicas. 

Com a segunda época, tive que passar as férias inteiras com meu livro de Francês. Sem aulas de recuperação, abandonado à própria sorte, usando um dicionário emprestado. E minha mãe pegando no pé. Durante o dia trabalhava, à noite estudava para a segunda época, durante as férias escolares. Que castigo!

Saiu a data do exame de segunda época, fui vê-la nos murais da escola. E acabei aparecendo para fazer o exame no dia seguinte. Depois de tanto sacrifício, ser reprovado porque não compareceu ao exame... O diretor da escola, o ainda vivo Arthur Evangelista de Souza, me recebeu na sala dele, escutou minha conversa, deu alguns berros e marcou nova data. E o Consa passou para a terceira série ginasial.

A ironia de tudo isso, caro leitor, é que lecionei Francês, algumas aulas semanais, em Rosana-SP (1972), porque o distrito era tão longe e sem estradas pavimentadas que nenhum professor (ou professora) habilitado iria dar tais aulas. E eu estava, lecionando Português. Então, fazendo um favor ao diretor, para não ficar sem aquelas aulas no currículo, baseado nos ensinamentos da Dona Magali e de uma coleção de discos da Editora Bloch (vendidos em bancas), ensinei francês para quem não conhecia bem o português.

Como duas pedras, eu e a Dona Magaly (viúva até hoje) rolamos, seguimos o mesmo rio (educação), apenas os afluentes foram diferentes, e nos encontramos redondas, polidas, lustrosas, muito mais pedras de quando iniciamos rolar correnteza abaixo. 

BIOGRAFIA DE JORGE CORRÊA, TOQUE AQUI PARA LÊ-LA  

VÍDEO EM QUE MAGALY RECITA POEMAS DO MARIDO, FALECIDO HÁ 60 ANOS - CLIQUE AQUI

10 comentários:

Anônimo disse...

Olá seu Hélio, dona Magali continua linda mesmo.....também foi minha professora de francês....lembro quando ela saia correndo nos corredores da sala dizendo en corante ....sempre a admirei, linda e fina. Feliz em saber que continua viva e lúcida....♥️💙💐

Ruybsantos@gmail.com disse...

Que linda homenagem, companheiro Consolaro. Dona Magaly deve ter ficado bem feliz. Parabéns.

Anônimo disse...

Que linda! Mestra do frances😘

Anônimo disse...

Dona Magali foi minha professora de francês no ginásio. Continua linda!!

Jotaê disse...

Fico extremamente feliz em ver a professora Magali, tão bem. Fui seu aluno também e adorava a sua maneira de ensinar. Cheguei a comprar um curso de francês depois que terminei o colégio, mas já não me lembro de quase nada. Mas ela é uma inspiração para quem a conheceu. Um grande beijo para ela.

Jotaê disse...

Meu nome é João Edson Floriano. Também fui aluno da professora Magaly e ela me abriu um mundo bem atraente. Conhecer francês, ainda que apenas com dois anos de aulas, foi uma delícia. Sua didática, sua elegância e educação para ensinar me inspiraram muito. Um grande abraço para ela. Sinto saudades.

Anônimo disse...

Também fui seu aluno. Recordo até hoje os versos de Paul Souchon e exertos de sua biografia, como um dos grandes poetas da língua francesa. "..j'ai que quittė ma mėre et sa pâle doleur, oh Paris, o coronne, la fleur"..

Anônimo disse...

Foi minha professora no colegio Nossa senhora Apda

Anônimo disse...

Saudade de Magali ! Lecionamos juntas na década de 70 ! Parabéns Hélio pela deferência 👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼Boa escolha da Magali ❤️

Jaime Scatena disse...

Consa, também fui aluno dela!