AGENDA CULTURAL

15.1.23

Compostagem humana ou morte verde: aceitaria? - Alberto Consolaro

A compostagem dá origem a solo enriquecido para a natureza estimular o crescimento das plantas em jardins!

O caixão sucumbe e cai a terra sobre o corpo, misturando se tudo em semanas, inevitavelmente. Os ossos resistem por alguns anos e os dentes um pouco mais, pois são mais mineralizados e densos. O sepultamento comum ocupa espaço, contamina solo e lençóis freáticos, incluindo metais pesados e gases sulfídricos que vazam nas sepulturas e jazigos.

Se impregnadas de medicamentos, este processo pode ser adiado por anos e até séculos. O embalsamento representa um processo químico que para a decomposição, mumificando a pessoa. Muitos povos dominaram a arte da mumificação e seus ancestrais são estudados até hoje, graças a este processo.

Com o corpo não embalsamado, dentro de uma caixa, iniciará uma autodecomposição depois de 24 a 36 horas. As células e os fluidos corporais têm enzimas e substâncias que decompõem as proteínas, lipídeos e carboidratos, dissolvendo os tecidos com perda de líquido. Sem a terra e seus animais, a decomposição demora mais tempo, mas também tem a participação de bactérias, fungos, parasitas e vírus das microbiotas corporais.

O embalsamento e a colocação do corpo em ambientes sem terra e ar circulante, pode preservar a estrutura corporal por muito tempo, como provavelmente ocorrem em alguns cemitérios chamados de verticais. Tem-se também os enterros naturais em que o corpo é enterrado sem caixão, como é permitido no Reino Unido e em outros poucos países.

Os mortos podem ainda ser cremados ou incinerados em fogueiras naturais em alguns rituais ou em fornos especiais, que dão origem a cinzas devolvidas às famílias e ou à natureza. Em busca de um processo mais ecológico ou “verde” de destinação dos corpos mortos, surgiu a compostagem humana.

MORTE VERDE

Na compostagem humana o corpo é colocado em um caixa e adiciona-se terra preparada e outros produtos naturais como ervas, lascas de madeira, alfafa e palha de capim, a critério da família e do desejo daquele que um dia habitou aquele corpo. Esta caixa é fechada, vedada e espera-se de 30 a 60 dias para que todo o corpo se transforme em um metro cúbico de novo solo para agir como adubo em jardins, vegetais, frutas e matas naturais. Fragmentos que persistem são triturados, como nas cremações, e as próteses e implantes enviadas para reciclagem.

Qual a vantagem? Representa um processo comparável ao que a natureza faria e está sendo adotado cada vez mais pelas pessoas em grandes centros. Há falta de espaços urbanos e os cemitérios se transformam em parques e outras dependências para a sociedade. Os jazigos e sepulturas requerem manutenção que levam tempo e custos.

O nome oficial da compostagem humana é "redução orgânica natural" ou NOR em inglês. Realizada em instalações especiais acima do solo é também conhecida como ‘morte verde’. Após 30 a 60 dias, há um processo de aquecimento para eliminar qualquer contaminação, e os entes queridos recebem o solo resultante a ser usado no plantio de flores, hortaliças ou árvores. As empresas que ofertam o serviço afirmam que há uma economia de 1,4 tonelada de carbono quando se compara com a cremação e o enterro natural. A compostagem humana é legalizada na Suécia e em vários estados norte-americanos.

REFLEXÃO FINAL

Nascemos puros e desnudos, estimulando e enriquecendo a vida ao redor, mas em geral, não aceitamos voltar à origem da mesma forma, estimulando a vida que nos cerca e enriquecendo a terra com nossa morte! Reflitamos.  

Alberto Consolaro  

Professor Titular da USP  
FOB de Bauru

consolaro@uol.com.br


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