AGENDA CULTURAL

6.8.23

A última gota e os adoçantes - Alberto Consolaro

As tamareiras oferecem a primeira colheita entre 70 e 100 anos depois do plantio!

Ninguém imaginava que uma gota a mais, faria o copo derramar. E fica perambulando no ar uma pergunta: Qual a gota é mais importante, a última ou a primeira? Sem a número um, a derradeira seria apenas a penúltima, antes de transbordar.

Na formação do câncer, ou carcinogênese, é assim. O DNA vai se modificando a partir da ação de agentes externos desde os primeiros momentos da vida. Raios solares, álcool, produtos de limpeza, químicos no ar das cidades, alimentos, medicamentos, produtos de higiene pessoal, bebidas, tabaco em todas as formas, radiações de várias fontes etc.

Estes agentes vão mudando alguns dos 25 mil genes que temos. Se a célula perceber, aciona o gene p53 e detona esta célula via apoptose, mas nem sempre acontece, pois tudo é muito discreto lá dentro da célula. É tão sutil que até o sistema imunológico demora acionar as células assassinas para eliminar as células diferentes e defeituosas.

PRIMÓRDIOS DO CÂNCER

A iniciação é o primeiro estágio da mudança carcinogênica: são as “células iniciadas”. Quem olha, ninguém diz que tem algo de errado e, se fosse uma pessoa, diria que é uma dissimulada. O agente que fez isto são “os iniciadores”.

As mudança nos genes podem se prolongar por anos ou quase uma vida inteira, é imprevisível. Chega-se a um ponto que a mudança foi significante e já dá para desconfiar que tem algo de errado com aquelas células, que podem aumentar sua autonomia e número no local. As iniciadas dão início a um clone de células malignas ou cancerosas. Foram promovidas de iniciadas para “promovidas”, da iniciação para a promoção na carcinogênese.

Os agentes externos podem ser iniciadores ou promotores, e até ambos. O álcool é tipicamente promotor, potencializa os iniciadores, as radiações solares, iniciadoras. Ao microscópio já dá para reconhecer estas células, mas clinicamente ainda não se tem alteração.

Alguns agentes externos estimulam a progressão mais rápida do processo, sua invasão local, regional e a distância. São os agentes progressores, é a terceira fase da carcinogênese dita “progressão”. Já se tem as manifestações clínicas e o reconhecimento clínico da neoplasia maligna.

Desde que nascemos, isto acontece! Na comida, bebida, remédios, lazer etc. Por isto que devemos ter consciência da forma de viver. Decidir a quem vamos nos expor, a quem deixaremos atuar nas células e no nosso DNA. Cada exposição é uma gota no copo que, um dia, pode transbordar. As alterações no DNA foram tantas, que o copo encheu e a qualquer hora vai derramar da promoção para a progressão.

ADOÇANTES E A OMS

É importante a variedade de carcinogênicos que atuam em nós, mas a frequência em que submetemos as células a esses agentes externos é tão importante quanto. Foi importante a decisão da OMS, vir a público falar que os adoçantes artificiais, como o aspartame, são potencialmente agentes carcinogênicos.

A quantidade pode ser muito pequena em cada produto, mas a frequência que ingerirmos, se não controlarmos, pode ser muito alta. Se for uma lata de refrigerante de vez em quando, uma a cada semana, seria muito pouco, mas para muitas pessoas serão muitas gotinhas o tempo todo, no mesmo dia.

E mais, junto ao adoçante ingerido, se somarão aos demais agentes carcinogênicos com que convivemos e são muitos, todos no mesmo copo. Sim devemos controlar a forma com que vivemos, a qualidade de vida e o estilo de viver! Sim podemos evitar a maioria dos cânceres que atinge a espécie humana, pois, suas causas são conhecidas.

REFLEXÃO FINAL

Que sejamos todos plantadores de tamareiras e que, entre 70 e 100 anos, coletemos diretamente as tâmaras da primeira colheita, junto com os filhos, netos e bisnetos. Viva a vida.  

Alberto Consolaro  

Professor Titular da USP  
FOB de Bauru 

consolaro@uol.com.br 

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