As tamareiras oferecem a primeira colheita entre 70 e 100 anos depois do plantio!
Na formação do câncer, ou
carcinogênese, é assim. O DNA vai se modificando a partir da ação de agentes
externos desde os primeiros momentos da vida. Raios solares, álcool, produtos
de limpeza, químicos no ar das cidades, alimentos, medicamentos, produtos de
higiene pessoal, bebidas, tabaco em todas as formas, radiações de várias fontes
etc.
Estes agentes vão mudando
alguns dos 25 mil genes que temos. Se a célula perceber, aciona o gene p53 e
detona esta célula via apoptose, mas nem sempre acontece, pois tudo é muito
discreto lá dentro da célula. É tão sutil que até o sistema imunológico demora
acionar as células assassinas para eliminar as células diferentes e
defeituosas.
PRIMÓRDIOS DO CÂNCER
A iniciação é o primeiro
estágio da mudança carcinogênica: são as “células iniciadas”. Quem olha,
ninguém diz que tem algo de errado e, se fosse uma pessoa, diria que é uma
dissimulada. O agente que fez isto são “os iniciadores”.
As mudança nos genes podem se
prolongar por anos ou quase uma vida inteira, é imprevisível. Chega-se a um
ponto que a mudança foi significante e já dá para desconfiar que tem algo de
errado com aquelas células, que podem aumentar sua autonomia e número no local.
As iniciadas dão início a um clone de células malignas ou cancerosas. Foram
promovidas de iniciadas para “promovidas”, da iniciação para a promoção na
carcinogênese.
Os agentes externos podem ser
iniciadores ou promotores, e até ambos. O álcool é tipicamente promotor,
potencializa os iniciadores, as radiações solares, iniciadoras. Ao microscópio
já dá para reconhecer estas células, mas clinicamente ainda não se tem
alteração.
Alguns agentes externos
estimulam a progressão mais rápida do processo, sua invasão local, regional e a
distância. São os agentes progressores, é a terceira fase da carcinogênese dita
“progressão”. Já se tem as manifestações clínicas e o reconhecimento clínico da
neoplasia maligna.
Desde que nascemos, isto
acontece! Na comida, bebida, remédios, lazer etc. Por isto que devemos ter
consciência da forma de viver. Decidir a quem vamos nos expor, a quem
deixaremos atuar nas células e no nosso DNA. Cada exposição é uma gota no copo
que, um dia, pode transbordar. As alterações no DNA foram tantas, que o copo
encheu e a qualquer hora vai derramar da promoção para a progressão.
ADOÇANTES E A OMS
É importante a variedade de carcinogênicos que atuam em nós, mas a frequência em que submetemos as células a esses agentes externos é tão importante quanto. Foi importante a decisão da OMS, vir a público falar que os adoçantes artificiais, como o aspartame, são potencialmente agentes carcinogênicos.
A quantidade pode ser muito
pequena em cada produto, mas a frequência que ingerirmos, se não controlarmos,
pode ser muito alta. Se for uma lata de refrigerante de vez em quando, uma a
cada semana, seria muito pouco, mas para muitas pessoas serão muitas gotinhas o
tempo todo, no mesmo dia.
E mais, junto ao adoçante
ingerido, se somarão aos demais agentes carcinogênicos com que convivemos e são
muitos, todos no mesmo copo. Sim devemos controlar a forma com que vivemos, a
qualidade de vida e o estilo de viver! Sim podemos evitar a maioria dos
cânceres que atinge a espécie humana, pois, suas causas são conhecidas.
REFLEXÃO FINAL
Que sejamos todos plantadores de tamareiras e que, entre 70 e 100 anos, coletemos diretamente as tâmaras da primeira colheita, junto com os filhos, netos e bisnetos. Viva a vida.
Professor Titular da USP
FOB de Bauru
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