Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP
Há um romance histórico do escritor de
Botucatu, Francisco Marins, intitulado “... E a porteira bateu!” (1968), que
narra de forma romanceada, fácil de ser lida, a saga da colonização do Oeste Paulista,
começando por Bauru em 1904, com a implantação da estrada de ferro. Adquira o
livro em sebos, via internet, R$10,00, 270 páginas.
Por sua leitura, perceberá que a briga dos
índios na Amazônia ocorrida agora, já acontecia há mais de 100 anos em nossa
cidade e região.
O grande defensor dos povos originários era
Marechal Rondon, mas nem sempre era bem-sucedido,
cujo lema era “Morrer se preciso for, matar nunca”.
Bugreiros e grileiros eram os bandidos do enredo.
Segundo os historiadores, Araçatuba tem muitos nomes de lugares públicos que
homenageiam essa gente com seus nomes.
Bugreiros espantavam índios, incendiavam
tabas para que o grileiro tivesse terra para vender de forma loteada, buscando
assim a legalidade da posse de terras roubadas.
No quilômetro 539, conforme o livro de
Francisco Marins, houve um choque entre caingangues (a tribo dona do pedaço) e
os trabalhadores da estrada de ferro. Nele, morreu o agrimensor, dinamarquês,
Cristiano Olsen (nome de nossa primeira escola do município). Não havia
pacificação que resistisse com os ataques dos bugreiros e reação dos povos
originários. A violência está na raiz de nossa história.
O quilômetro 539 se localizava na proximidade
da rua Anita Garibaldi; atualmente um arvoredo que se chama praça Darci de
Oliveira, onde eram feitas feiras de artesanato.
Ajeitar o terreno e plantar as árvores,
montar a praça, foi obra da ex-prefeita Marilene Magri, que governou a cidade
por três meses (100 dias), no finalzinho de 2008, assumindo a Prefeitura com a
cassação de Jorge Maluly Neto. Não dava tempo de fazer nada, plantou árvores.
Se para cada pessoa assassina na abertura do
município (invasor ou originário), construíssemos uma cruz no local, Araçatuba
hoje seria um imenso cemitério.
Hélio Consolaro é professor, jornalista e
escritor. Membro das academias de letras de Araçatuba-SP, Andradina-SP,
Penápolis-SP e Itaperuna-RJ
FERROVIÁRIOS NEGROS
O livro “...E a porteira bateu”! confirma aquilo
o que a gente vê ao vivo, mas não acredita, precisa aparecer escrito nos livros,
que os negros liberados pela Princesa Isabel foram contratados para ajudar na
construção das estradas de ferro paulistas pela companhia.
Ao acabar a estrada, os negros remanescentes,
sobreviventes, foram contratados como funcionários pela companhia e registrados,
passando a ser ferroviários. Ganharam dignidade. Em Araçatuba, eles habitavam
os bairros Santana e São Joaquim. Até uma escola estadual ganhou um advogado
negro como patrono: Luís Gama.
(O Brasil), Araçatuba e região foram povoados
por ajuntamentos de gente de todos os tipos e de todas as partes do mundo, que
vieram cumprir a sina nesse fundão do Estado de São Paulo. Num terreno fértil
para a solidariedade, não é possível dizer que um seja melhor do que o outro.
Um comentário:
Gostei de ler seu texto. Sou de uma cidade em que a Mogiana chegou e não atravessou. Araguari.
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