Escritoras Rita Lavoyer e Fernanda Goiatto |
Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Araçatuba-SP
Como é bom morar em Araçatuba, não tem lama dentro de casa e nem os mananciais transbordaram. Há em nós uma sensação de conforto com a desgraça do outro.
Castigaram a natureza num lugar
do planeta, e o castigo coube aos gaúchos. Ou eles também são culpados? Não há
inocentes nesta tragédia televisa.
Que planeta deixaremos para
nossos descendentes? Não sei se nossos ancestrais fizeram tal pergunta.
Somos um bando de cegos, perdidos
nesse planeta, um acusando o outro pela sujeira. Não soubemos nem conservar a
Terra limpa.
Na verdade, estamos perdidos e
dessa vez não há Arca de Noé. A única coisa que posso dizer aos gaúchos que
estou triste com tanta desgraça.
Que vexame para o povo
biriguiense ter políticos desse quilate. Não tem gente melhor para o povo
eleger?
Não estou me referindo a este ou
aquele grupo, falo de todos. Cada um pensando só em si, se esquecendo da
cidade.
A copeira do gabinete não sabe
que tipo de café faz, pois cada dia tem um prefeito diferente.
Araçatuba não é muito diferente,
mas não se chegou a essa antropofagia.
Crie vergonha, Birigui!
A escritora Rita Lavoyer estava chegando à biblioteca municipal Rubens do Amaral no seu carro para autografar o livro infantil “Dengoso-o mosquitinho anti-herói!”, quando viu centenas de carros estacionados ao redor, sem vagas. Ela gritou:
- Não tenho exemplares suficientes, vou passar
vergonha!
O marido emendou:
- Não sabia que você era tão famosa!
Ao adentrar o saguão, Rita percebeu que não era
tanta gente assim!
- Ué! Cadê o povo?
Uma amiga lhe disse que havia jogos regionais dos
idosos no Ginásio de Esporte, daí tantos carros estacionados na redondeza!
Mas uma voz mais esclarecedora foi fundo:
- Quem disse que velho junta tanta gente?
- É o jogo da AEA no estádio municipal!
Havia muita gente na sessão de lançamento do livro,
mas nem tanto, que enchesse um estádio.
A AEA está na série C, que hiperbolicamente chamam
de “Bezinha”, mas os pais, recordando a infância, levam seus filhos para ver um
jogo no estádio, coisa nunca vista por eles.
“Dengoso, mosquinho anti-herói” chama a atenção
para a conscientização no combate à dengue com muita poesia, ludicidade e
informação. Livro premiado pela Secretaria Municipal de Cultura de Araçatuba.
A vida precisa do esporte, mas a leitura ajuda
também.
NÃO ERA ELE
Afinal, ele insistia em falar
comigo, falar de uma amizade de 50 anos atrás. Mas para quê? Para brigar? Não
era ele que viria me visitar, era outro, totalmente diferente.
Dois velhos se encontrariam, nem
do passado poderiam falar, porque ele passou a ser negacionista, pois sofria da
Síndrome de Estocolmo, se apaixonou pelo algoz.
Dois velhos de passados iguais,
mas que não podiam se referir a ele, não podiam se encontrar. Melhor não.
A campainha da casa tocou, abri
uma fresta na janela, era ele. Não veio uniformizado, vestido com a camiseta da
seleção brasileira. Abri a porta, entrou. Fui mostrar-lhe o jardim. Conversamos
mais de hora sobre um presente ameno. Sementes, mudas e flores.
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