Aulas de felicidade

Hélio Consolaro

Há uma febre de busca de felicidade. Ser infeliz está proibido. Na Inglaterra, serão dadas aulas de felicidade. Como somos mestres em macaquear europeus, logo a moda chegará por aqui.

Só falta o governo brasileiro baixar um decreto, medida provisória ou coisa parecida. Com a campanha “Lulinha, paz e amor”, é bem provável que surja algo parecido.

Pessoa feliz é o bicho mais besta, sem graça, nem dá para ser personagem de filmes, contos, romances, porque não geram conflitos. E sem conflito e gente complicada, não dá para fazer história boa.

Antigamente, os petistas se apresentavam como infelizes, barbas em desleixo, cabelos em desalinho, bichos grilo, gente depressiva. Os candidatos se apresentavam assim na tevê: “Fui preso”, “Sou pobre”, “Sou como você, trabalhador”. “Tenho a sua cara”. E o eleitor dizia:

- Não sou esse bicho, não!

E os petistas justificavam:

- Sou infeliz porque o sistema me deixa assim!

Aquele slogan “Sem medo de ser feliz” não caía bem. Ninguém votava no PT, apenas os mal-humorados.

Em 2002, Duda Mendonça deu um banho de loja e cabeleireiro nos petistas, pôs um sorriso na cara de cada um, tirou fotos deles com criancinha no colo. Aí o slogan “Sem medo de ser feliz” combinou com a aparência, inclusive do Lula. Ganharam a eleição. O povo pensou:

- Vamos dar um chance para esses malucos disfarçados.

Agora o disco virou. Os petistas estão todos felizes. Alguns porque estão por cima da carne-seca, outros se empregaram pela primeira vez. Não querem largar a felicidade.

Como são os “home” do sistema, não toleram gente infeliz. Não é politicamente correto. Se fosse na época do Stalin, os depressivos seriam fuzilados.

Mas não estamos livres do perigo: implantar nas escolas brasileiras, como já acontece na Inglaterra, aulas de felicidade.

Professor brasileiro, chega à escola, meio molambento, de moto-táxi, sapatos gastos. Alguém lhe pergunta:

- Você é professor de quê?

- De Felicidade...

Num quadro surrealista, ele resmunga, fala mal do salário e do governo. Se alguém lhe desejar “boa tarde” ao chegar, responderá mal-humorado:

- Boa-tarde por quê?

Se Noel Rosa cantava que samba não se aprende no colégio, os ingleses querem dar aulas de felicidade.

Dois mil alunos de uma escola pública britânica terão aulas sobre felicidade a partir do início do próximo ano letivo, como experiência piloto.

O projeto foi lançado devido ao aumento de depressões e enfermidades mentais registradas entre as crianças britânicas. Pelo menos 10% das crianças em idade escolar sofrem de depressão severa, segundo as estatísticas oficiais.

Se as crianças inglesas viessem para cá brincar com a gurizada do Jardim São José, com certeza, voltariam curadas.