AGENDA CULTURAL

14.11.15

Ser bom sem ter religião

Dom Carlo Maria Martini










Meu amigo, já com 70 anos, tinha uma namorada. Ele chegou chateado e me disse:

- A fulana me largou?

Demonstrei surpresa, pois se davam tão bem. E ele havia me declarado que ela seria o último amor da vida dele. Perguntei-lhe qual fora o motivo. 

- O filho dela me chama de ateu. E ele não confia em ateus. Fez a cabeça da mãe.

Perguntei-lhe se ele a proibia de ir à igreja. Ele me disse que não, ao contrário, ela que forçava a sua ida à igreja dela.

Lembrei-me de um livro que li na década de 90, que reproduzia um debate do intelectual italiano Umberto Eco e Dom Carlo Maria Martini, cardeal de Milão, publicado por uma revista da Itália.
 
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O livro se chama "Em que crêem os que não crêem". Entre temas variados como “Onde têm início a vida humana”, “A obsessão laica pelo novo Apocalipse”, “Os homens e as mulheres segundo a igreja” e “Onde o leigo encontra a luz do bem”, os debatedores  tentam colocar no papel as principais dúvidas e pontos de acordo entre os ateus e os católicos.

O último tema relacionado aos princípios que norteiam a ética laica e que é a primeira e única sugestão de tema feita pelo Cardeal Martini constitui o ponto de destaque do livro. Confrontando a ética religiosa que busca em Deus e no absoluto a inspiração para a prática do bem e a ética laica e que busca no respeito e na relação com o outro os seus parâmetros. O religioso não achava possível uma pessoa ser boa sem sem ter religião.

Essa indisposição de conviver com o diferente é que gera a mágoa, a desilusão, a violência. Meu amigo é um sujeito elegante, cavalheiro, educado, mas tinha uma fé sem muita convicção. Como se Deus precisasse dele para existir.

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