AGENDA CULTURAL

31.7.22

Você já virou pedra, ou não?

 

Precisamos ampliar as entradas do cérebro para não ficarmos limitados como seres de pedra!

Quando falamos em informação se pensa em notícias, conhecimento e atualização, mas não precisa ser assim, é muito mais simples: informação é igual sensação! Tudo que chega no cérebro. Tudo, tudo e tudo vem pelos forames e nervos interligados a receptores distribuídos no corpo. Todas as informações que chegam no cérebro são sensações captadas por estes receptores ou “órgãos dos sentidos”: visão, audição, olfato, paladar e tato.

1. O cheiro é captado no nariz, na parte mais superior da cavidade nasal, onde neurônios ultraespeciais captam as substâncias químicas voláteis. 

2. A visão se faz pela luz nos olhos que captam as formas e cores. 

3. Os sons são captados com microossos no ouvido que tocam o tímpano para que possamos captar ondas sonoras magníficas. 

4. Na língua, os milhares de botões gustativos nos revelam o doce, azedo, salgado e muitas outras combinações. 

5. O tato é captado nos milhares de receptores distribuídos na pele e mucosas para interagirmos e deliciarmos com as texturas das superfícies dos materiais e animais.

A mídia quer o cheiro, sabor e tato nas telinhas de celulares, computadores e televisões. As pesquisas de vanguarda buscam que não só vejamos e escutemos, mas que também cheiremos o que se passa nas imagens e sons! Depois virão a textura e o sabor nas telas: - será demais!

ASSUSTADOR

Três séculos antes de Cristo, viveu na Grécia um dos pilares do pensamento ocidental representado por Aristóteles. Naquela época, ele já ensinava que “tudo que temos no cérebro, passou antes pelos órgãos dos sentidos”.

Tem pessoas que para aprender tem que ler muitas vezes o mesmo livro, escutar e ver o mesmo vídeo, ou reescrever as mesmas fórmulas e raciocínios. São pessoas que sofrem para aprender! Na hora de aplicar o conhecimento ou ser avaliado, ainda que tenha estudado muito, atinge a média com muito sacrifício. Outras assistem as aulas e vídeos, leem rapidamente o livro ou usa uma única vez a fórmula e chega na hora de aplicar e ou ser avaliado, recorda com facilidade e sem sofrimento.

Se compararmos os estilos de vida, captaremos a razão disto acontecer. A pessoa que tem facilidade de aprender, gosta de um teatro, livros não técnicos, folclore, cinema, exposições, museus, boa música, poesia, pinturas, dança e reuniões em que o que faz não é só beber e comer! Ela faz passeios, aprecia o céu, o pôr do sol e a natureza. Isto amplia as “portas” do cérebro ou os órgãos do sentido!

Enquanto isto, quem tem dificuldade em aprender não se abre para a cultura e arte, não vai ao teatro, cinema e exposições. Para ela, poesias, músicas boas e fotografar são coisas chatas. Essas pessoas gostam de beber, xingar, gritar, falar palavrão, dirigir como loucos e só conversar da vida alheia. Isto diminui cada vez mais as “portas” do cérebro.

TESTE FINAL

Uma autoavaliação fictícia: Há quanto tempo não vai ao teatro? Quando leu um livro não técnico? Qual a última exposição artística e cultural que frequentou? Qual a última poesia lida, escutada ou escrita? Qual a última vez que parou e meditou sobre a mensagem de uma música ouvida não como barulho ambiental? Qual foi a última reunião cultural tipo sarau que frequentaste? Qual a última escultura ou pintura que admiraste depois de ver os mínimos detalhes? E hoje, quase tudo se pode fazer pela internet.

Se para a maioria destes itens, sua resposta for maior que seis meses, devemos nos preocupar: podes estar virando pedra! Quanto mais você treinar os órgãos dos sentidos, mas inteligente você fica. E só tem um jeito de ampliar as portas do cérebro: treinando a sensibilidade e, a academia desta sensibilidade, está na arte e ciência.

Não é atoa que ao longo de toda a história mundial, em todos os tempos, os primeiros e principais alvos dos ditadores são sempre a cultura e a ciência, pois eles odeiam gente inteligente e independente!  

Alberto Consolaro  

Professor Titular da USP  
FOB de Bauru
consolaro@uol.com.br  


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