AGENDA CULTURAL

31.7.22

Tá pensando que eu sou lóqui, bicho? - Antônio Reis


O título deste texto é quase homônimo de uma música de Arnaldo Dias Baptista, multi-instrumentista, compositor dos Mutantes, ícone da contracultura no Brasil lá pelos idos de 1970. Usava-se a gíria “lóqui” para definir o tolo, o “pilha fraca”, o “desparafusado”.

Querer fazer do outro um lóqui, era agir de má-fé. Hoje, ficaria mais ou menos assim: “Tá pensando que eu sou vacilão, mano?”.

De tanto receber mensagens duvidosas e outras claramente mentirosas pelo aplicativo de mensagens no celular e redes sociais, me pego a pensar o que se passa pela cabeça de quem as envia.

Concluo que se dividem em dois grupos: lóquis e safardanas. E ambos medem os outros pela própria régua, julgam a todos como seus iguais. Os dois grupos agem juntos e misturados, um precisa do outro.

Os lóquis, mal leem o texto e já disparam a mentira “para Deus e todo mundo”. Seguindo a tendência, se julgam portadores da verdade que salvará a humanidade, e sua missão é levar adiante a “boa-nova”. Coisa de gente incapaz de se guiar pela sensatez, bom gosto e respeito pela inteligência alheia.

Os safardanas, além de criadores da “obra” ajudam na divulgação, que vai da mamadeira de piroca a salário digno de marajá sem sair do conforto de sua casa. E quem pensa que já viu de tudo, há de se surpreender à medida que o 2 de outubro se aproxima. A “obra”, quase sempre, tem objetivos espúrios, visam lucros e dividendos.

Vilania pura e requintada.

A indigência moral não poupa sequer as vítimas do maior flagelo da condição humana: o desemprego. Dia desses, recebi uma mensagem via celular de um desconhecido se apresentando como encarregado do departamento de recursos humanos da Amazon no Brasil.

Dizia ser eu integrante de seleto grupo de pessoas escolhidas para parceiras da gigante do e-commerce.

Para cima de quem, meu Deus! Sou tão desconfiado, mas tão desconfiado que tiro dinheiro do banco, conto e deposito de novo. É assombrosa a ousadia e a cara de pau, mas há quem acredite.

Até achei graça da proposta de parceria, mas decidi bloquear o número daquele desconhecido, não sem antes mandar-lhe uma resposta de advertência: “Tá pensando que eu sou lóqui, bicho?”.  

(*) Antônio Soares dos Reis é jornalista em Araçatuba e ativista do Grupo Experimental (GE) da Academia Araçatubense de Letras (AAL)

antonio.reis.jornalista@gmail.com

 


2 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom, divertido e inteligente!

Eleni Mariano disse...

Muito bom, divertido e inteligente!