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25.1.24

Camélias, símbolo de força e liberdade! - Alberto Consolaro

As camélias carregam uma simbologia muito forte no mundo

Para saber se é questionador, responda qual é a história que levou à escolha do seu nome? A maioria não sabe responder, mas pode trazer à tona histórias lindas, singelas, pitorescas e até reveladoras.

No meu bairro, todas as ruas têm nome de flores e a maioria nunca deve ter visto aquela flor que empresta o nome para localizar sua casa. As pessoas têm dificuldade de explicar o nome da sua rua, cidade e estado, mas ao procurar saber, se aprende muito!

CAMÉLIAS NO MUNDO

A camélia é uma flor emblemática de força, idealismo e liberdade. Ela pode durar vários dias depois de colhida, mas, se tocada, cobre-se de manchas escuras. As folhas, resistentes e brilhantes, são muito decorativas e serve de acompanhamento para outras flores em arranjos e buquês.

As camélias têm dezenas de espécies nativas nas florestas da Índia, Sudeste Asiático, China e Japão. Se apresentam em formas diversas nas cores brancas, vermelhas, rosadas ou raramente amarelas. Oferecer camélias significa uma paixão avassaladora, amor eterno e desejo ardente.

No Oriente, a camélia representa a feminilidade, sendo muito retratada nas artes decorativas. A planta foi levada para a Itália em 1739, pelo padre botânico Camellius (Georg Joseph Kamel), de cujo nome, saiu o da flor.

Alexandre Dumas Filho em 1848 publicou o famoso livro “A Dama das Camélias”, que narra o drama e o romance de uma cortesã por um rapaz da sociedade com todas as dificuldades que ela sofre até o leito de morte por esse amor. A obra foi inspirada no romance do escritor com a cortesã Marie Duplessis, contando-se com o fato de ser ele próprio, um filho extraconjugal de Alexandre Dumas. Em 1853, Giuseppe Verdi conheceu o sucesso mundial imediato com a ópera La Traviata, utilizando-se das camélias em sua trama.

Na França, a camélia foi imortalizada por Coco Chanel, que a usou como símbolo de sua arte, sempre entregando-a como um presente elegante para homens e mulheres, traduzindo assim a beleza e harmonia, mas especialmente a fidelidade e longevidade. Ela foi dona de uma das mais renomadas casas de alta costura da França desde 1916.

CAMÉLIAS E ABOLIÇÃO

No Brasil, as camélias se tornaram um símbolo do movimento abolicionista e quem usasse a flor na lapela ou a plantasse no seu jardim, estava a favor do movimento antiescravagista. Eram cultivadas no Quilombo do Leblon, localizado em uma chácara na zona sul que pertencia ao comerciante português José de Seixas Magalhães, onde os escravos fugitivos cultivavam estas flores para que levasse as “subversivas” camélias para a Princesa Isabel, com as quais adornava seus vestidos.

Rui Barbosa foi uma das figuras mais influentes da época e plantou à frente de sua casa no Rio, três pés de camélias, que lá estão até hoje, agora um museu muito visitado da Fundação Casa de Rui Barbosa. No livro “As camélias do Leblon e a abolição da escravatura”, o historiador Eduardo Silva conta esta linda história.

O simbolismo das camélias esteve presente na assinatura da Lei Áurea, quando o presidente da Confederação Abolicionista se aproximou da Princesa Isabel e lhe entregou um buquê de camélias artificiais. Em seguida, chegou às mãos da Princesa um outro buquê, agora de camélias naturais, vindas diretamente do Quilombo do Leblon. Rui Barbosa definiu esta cena como "A mais mimosa das oferendas populares".

REFLEXÃO FINAL

Conhecer e valorizar o significado e o simbolismo das coisas é abrir-se para novas experiências e saberes maravilhosos, mas, infelizmente, deixa-se de fazer alegando falta de tempo, ausência de hábito e até mesmo, comodismo! Gil e Caetano já cantaram lindamente “As camélias do quilombo do Leblon”, vale a pena ouvir esta música.

Na luta contra a discriminação pela cor da pele, violência contra a mulher e outros preconceitos, bem que se poderia resgatar as camélias como o símbolo unificado desta conscientização. Seria impactante! 

Alberto Consolaro 

Professor Titular da USP  
FOB de Bauru 

consolaro@uol.com.br

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