AGENDA CULTURAL

25.1.24

Quem vai desaparecer primeiro - Alberto Consolaro

Ministro de Tuvalu discursa na COP-26 com metade do corpo no mar que sobe e vai submergir o país inteiro em alguns anos
“Nunca pensei que isso aconteceria com a gente!” Nas tragédias, esta é a frase mais ouvida. O Brasil está sentindo os efeitos do aquecimento global e destruição da natureza. Sem a floresta amazônica preservada, vai mudar o clima do país, incluindo a região sul, com tempestades, ciclones, desertificação e muita destruição. E tem gente que não acredita nisto ainda?

A Austrália é o maior país do continente chamado Oceania. Os outros países são centenas de ilhas ao redor, incluindo a maravilhosa Nova Zelândia. São pequenos países incríveis e Tuvalu está entre eles com 8 ilhas habitadas, das 33 do seu arquipélago, com constantes inundações pelo aumento crescente do nível do mar. Em 50 anos, Tuvalu desaparecerá e será o primeiro a sumir do mapa pelo aquecimento global, embora não tenha poluído nada.

Os especialistas estimam que o nível do mar suba 59cm até 2100 e inúmeras ilhas e cidades costeiras simplesmente desaparecerão no mapa. A segunda a desaparecer será a cidade de Veneza, que “afunda” 10 centímetros por ano, seguida por outros países insulares como Ilhas Maldivas, Kiribati e Ilhas Seicheles. E no Brasil, qual cidade desaparecerá primeiro? Lembremos que São Luís, Florianópolis e Vitória são ilhas, sem contar que Recife, Salvador e Rio têm o mar dentro delas. Depois dirão: nunca pensei que aconteceria com a gente!

NOVA NAÇÃO?

Os 12 mil tuvaluanos já se preparam para perda total do terreno e, se mudarão para a Austrália, que os acolherarão. O governo está finalizando a digitalização de tudo sobre a vida, as pessoas e a cultura de Tuvalu, pois o país existirá apenas virtualmente. Sua capital é Funafuti e 92% da população tuvaluana fala a língua local e o inglês. Suas praias são lindas. O regime é uma monarquia parlamentarista e o rei é Charles da Inglaterra. Tuvalu foi colônia espanhola e britânica que em 1978 tornou-se independente e faz parte da Comunidade Britânica.

A principal renda do país é o aluguel do seu domínio na internet para emissoras de tv. Quem nunca ouviu sobre Tuvalu e nem sabe onde fica, já entrou em sites e e-mails que terminam com “tv”. Um exemplo é globo.tv, mas a maioria nem percebe. Outras fontes de renda são a emissão de selos, moedas e o aluguel da bandeira para os navios. A moeda é o dólar tuvaluano e australiano. Quando se padronizou as abreviaturas de países na internet, Tuvalu saiu beneficiada e aluga seu domínio “.tv” para o mundo inteiro.

Na Oceania, a quantidade de ilhas é enorme e a região passou também a ser conhecida como Polinésia que significa região de muitas ilhas. Os botocudos foram indígenas dizimados por ordem de D. João VI e sobraram apenas 30 crânios no Museu Nacional no Rio de Janeiro. Análises de DNA, extraído em seus dentes, revelaram que seus ancestrais são polinésios, a mesma região de Tuvalu. Alguns mineiros e o mais antigo esqueleto brasileiro chamado de Luzia, também tem os mesmos genes polinésios. Ou seja, somos um pouco tuvaluanos!

REFLEXÕES

Tuvalu vai ser a primeira nação digital com todas as suas características físicas e culturais registradas no mundo virtual. Em 2021, na COP-26, o representante do país discursou em um vídeo gravado dentro do mar com água pelos joelhos, mostrando os efeitos das mudanças climáticas no país. Haverá eleições, governos, passaporte e vida civil virtualmente, inclusive casamentos.

Estamos entrando na era das nações digitalizadas e sem territórios. Também teremos em breve as nações que nascerão digitais desde o início, sem uma história física anterior.

Nos preparemos para evitar o pior e não dizer depois que nunca pensei que isto aconteceria com a gente!  

Alberto Consolaro 

Professor Titular da USP  
FOB de Bauru 

consolaro@uol.com.br

Nenhum comentário: