Hélio Consolaro
Apesar do frio, o boteco Bate Forte estava lotado, todo verde-amarelo no Dia Nacional da Cerveja. Faca Amolada e Caneta Louca, esbaforidos, corriam pra lá e pra cá, atendendo aos pedidos que eram gritados.
- Uma garrafa de vinho, bom e barato!
- Quero cerveja mesmo! Mande a quadrada!
- Uma porção de amendoim salgado!
Seu Sugiro gritava da calçada:
- Sugiro espetinho de filé miau!
Dona Assuntava gerenciava a cozinha; Amelinha, mais marcava do que recebia na caixa. Seu Sugiro assava seus espetinhos na churrasqueira instalada na calçada. Estava funcionando uma microempresa brasileira.
Entra Dona Moranga e o Miltão. Tudo bem. O casal freqüenta o Bate Forte há anos, sem problemas. Mas ela esta com o rosto cheio de hematomas, nariz roxo.
Todos olharam o Miltão com certa indignação, como a dizer: “Bateu na coitada!”, “Socou murros na cara dela!”, “Covarde! Numa mulher não se bate nem com uma flor!”, “Ela é um tribufu, mas merece respeito”.
Pensaram isso, mas não disseram. Até que Subversivo, o polêmico, chutou o pau da barraca:
- Dona Moranga, conta pra nóis, o Miltão bateu na senhora, espancou sua pessoa?
Foi aquele óóóó! Era a pergunta que todos queriam fazer.
Miltão, sempre foi nervoso, estufou as veias do pescoço, controlou-se e ia se explicar, quando Dona Moranga interveio, fez -se uma roda:
- Não! Eu quero contar! Miltão foi catar coco, coco da Bahia, daqueles grandes, no quintal de casa. Temos lá três coqueiros que dão muitos frutos. Como já são antigos, estão altos. Miltão subiu na escada, e eu fiquei embaixo recebendo os cocos que ele tirava dos cachos.
Todos já imaginaram o que aconteceu, mas Dona Moranga continuou a contar o caso:
- Como o Sol estava alto, atrapalhou a minha visão. E um coco bateu na minha testa com toda força. Chegou a quebrar o meu nariz e me esfolou toda a cara.
- Coitada! – exclamou Dona Assunta.
Miltão fazia cara de tristeza. E acrescentou:
- Obra da fatalidade!
Subversivo, que estava pra lá de Bagdá, fez um comentário:
- Miltão, você aproveitou a situação para se livrar de Dona Moranga, né safado!
Miltão foi tirar satisfações com Subversivo no braço, chegou a acertar um sopapo.
A turma do deixa-disso entrou em ação. Segura aqui, solta acolá. Até que Faca Amolada deu o seu grito de trégua:
- Rodada por conta da casa!
Assim, o Bate Forte voltou ao normal, todos encheram novamente seus copos, e aquele vozerio, sem gritos e xingamentos, voltou a predominar.
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