AGENDA CULTURAL

17.9.06

Não se pode ser bom

Hélio Consolaro

Ontem, ao voltar para casa, vi um rapaz caído na beira da calçada, com as pernas na pista e o resto do corpo na grama, com uma caixa de engraxate caída ao lado.

O meu primeiro impulso foi parar e ajudar aquela pessoa, que, aparentemente, havia sido atropelada. Mas, como havia muitos outros veículos atrás e a pista era um pouco estreita, deixei para parar um pouco adiante e voltar para ajudar
.
Para adiantar o atendimento, liguei para o 190 e relatei o suposto acidente, avisando que estava indo ao local. Qual não foi minha surpresa, ao receber, do atendente do 190, a orientação para não chegar perto!

Ela (era uma mulher, ao telefone) me perguntou se era um engraxate. Eu disse que sim. Ela então me disse que aquilo era um novo golpe!

O cara fica caído na rua, e quando alguém se aproxima para ajudar, ele anuncia o assalto, obrigando a vítima a levá-lo até o veículo, como se estivesse amparando-o, e, com isso, as pessoas que passam não desconfiam que é um assalto.. Uma vez no carro da vítima, o caso se desenrola como um seqüestro-relâmpago: saques, violência, roubo do carro, e, em alguns casos, morte da vítima.

A atendente me explicou que eles também costumam simular tombos de moto, bicicleta e acidentes de carro, mas sempre com a suposta "vítima" caída no chão.

Portanto, ao deparar com pessoas aparentemente acidentadas, não pare.! Ligue para a polícia ou acione o resgate com Corpo de Bombeiros. Só pare caso você testemunhe o acidente!

Rosa Paz, minha amiga de Orkut, contou essa história que me comoveu, me arrepiou. E me lembrei das pessoas que me pedem carona na estrada, e eu, sozinho no carro, me nego a parar, porque sei que a morte também pede carona, como no filme. O medo me domina.

Parece uma história surrealista, filme de suspense, coisa de internauta neurótico, mas mesmo que minha amiga seja uma paranóica, é possível acontecer o relato, contado por ela, durante uma viagem.

Não gosto de deixar as pessoas apreensivas, exacerbar o egoísmo, mas no desespero de um naufrágio, cada um tenta salvar-se em primeiro lugar, para depois ajudar os outros. Isso faz parte da natureza humana. Como escreveu o poeta inglês Robert Browning: “O homem busca seu próprio bem à custa do mundo inteiro”.

A estrutura atual da sociedade brasileira não permite que sejamos bons no país mais cristão do mundo, embora o cristianismo recomende que se morra em defesa do outro. É o que se chama de pecado social, tudo nos leva a não ajudar o outro, a realidade é contrária à solidariedade.


O outro não é um irmão, mas um inimigo, uma ameaça, meu concorrente. Ele nos causa medo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Aconteceu com ela mesmo?

Recebi um e-mail contendo esse mesmo alerta. Fiz uma pesquisa no google e achei esse mesmo texto afirmando que tal fato teria ocorrido com um conhecido, respectivamente nas cidades de Caxias do Sul, Joinville e agora Araçatuba...

Onde ocorreu?