AGENDA CULTURAL

12.11.06

Censura na internet

Hélio Consolaro

Ontem, eu paguei uma conta de água, atrasada, pela internet.

Entrei no sítio do Daea, gerei um novo boleto, já com a multa, fui até minha conta bancária e fiz o pagamento. Tudo isso sem sair de casa. São as maravilhas da tecnologia.


Mas há muitos adultos que só conhecem a internet pelos filhos (ou netos) adolescentes, então, consideram que a rede só fornece sacanagem (filmes pornôs, por exemplo), só serve para baixar música, brincar e bater papo entre amigos e arrumar namorada. Não conhecem o lado sério da rede.

Muitos alunos, quando me vêem on line me dizem:

- O senhor não trabalha? Só vive na internet!

Respondo-lhes que estou trabalhando, montando atividades escolares e provas, escrevendo Entrelinhas, respondendo a e-mails do serviço de tira-dúvidas do sítio "Por Trás das Letras".

Explico também que, como minha conexão é banda larga, assim que ligo o computador, já estou na internet simultaneamente.

Escrevo tudo isso porque há pessoas que gostam de controlar tudo, como se fossem Deus ou donas do mundo.

Contratam até detetives para seguir os filhos. Já há até escolas com câmera em sala de aula, é a substituição do "Sorria, você está sendo filmado" pelo "Comporte-se, você está sendo filmado!".

Por causa dessa ideologia controladora, um projeto tramitava no Senado (felizmente retirado pela reação da opinião pública) que propunha a identificação de todos os internautas como condição prévia para ter acesso à internet.

As penas previstas para quem não cumprisse a lei, se aprovada, eram pesadas.
O autor da proposta foi Eduardo Azeredo, senador do PSDB por Minas Gerais, e o lobby, exercido por banqueiros e as transnacionais dos cartões de crédito.

O projeto, se fosse aprovado, iria burocratizar o uso da rede e que já é possível identificar os autores de cibercrimes, a partir do registro do IP (protocolo internet) utilizado pelos usuários quando fazem uma conexão.

O número IP é uma espécie de impressão digital deixada pelos internautas.
A partir dele, chega-se ao computador e a um possível criminoso. Se já é possível, complicar para quê?

O senador também queria responsabilizar professores pelo acesso indevido à internet, instalando o constrangimento na escola. Totalmente contra a inclusão digital pretendida pelo governo Lula, que tem projeto de interligar as escolas com rede de acesso em banda larga.

Veja, caro leitor, como as coisas são contraditórias. Lula foi a maior vítima durante a campanha eleitoral da difamação pela internet e quem quer a censura na rede é o PSDB. Que ironia!


Nenhum comentário: