AGENDA CULTURAL

11.11.06

Você é feia demais!

Hélio Consolaro

O boteco Bate Forte fervia de barrigudinhos na sexta-feira, Dia Nacional da Cerveja. Todos bebiam, alguns jogavam bilhar, outros conversavam, mas ninguém tomava refrigerante. Faca Amolada e Caneta Louca corriam pra lá e pra cá atendendo aos pedidos que vinham aos gritos:

- Uma cerva bem gelada!

- Uma porção de tremoço!

E Seu Sugiro gritava lá da calçada:

- Sugiro espetinhos de filé miau!

E os pedidos vinham em penca para alegria do japonês churrasqueiro.

Dona Assunta administrava a cozinha, por isso suava; Amelinha mais anotava do que recebia na caixa.

Os barrigudinhos olhavam para a imagem de Santo Onofre e jogam um pouquinho para o santo, para desgosto de Dona Assunta.

Subversivo já chegou manguaçado. Burguês insultou-o:

- Como é, corintiano? Já está gritando campeão? Corintiano se entusiasma por pouca coisa.

- Nóis tá subindo, mas ocês, palmeirense, está à beira do abismo, caindo para a série B... respondeu Subversivo.

Gordo pediu ao sanfoneiro da dupla caipira que tocasse Chalana, de Mário Zan, como homenagem do Bate Forte ao músico que morreu na quinta-feira. E o pedido foi comemorado com salvas de palma.

Bicho Grilo, metido a intelectual do Bate Forte, fez questão de comentar que João Gilberto, o astro da Bossa Nova, soube recentemente que é pai com 75 anos de idade.

Todos ficaram admirados. Magrão gritou:

- Cuidado com o Seu Lamentáveis. O homem ainda dá no couro!

Nisso, Subversivo chegou bem perto de Dona Moranga, mulher do Miltão, e disse:
- Você é feia, heim?

Ela não disse nada, apenas olhou para o Miltão, seu marido.

E Subversivo insistiu:

- Nossa, mas você é feia demais!

Dona Moranga, conhecendo o marido que tem, fingiu não ouviu. E Subversivo disse:

- Puta merda! Você é muito feia!

Dona Moranga não se agüentou e disse:

- E você é um bêbado!

- É, mas amanhã eu melhoro...

Miltão, nervoso, gritou de seu lugar:

- Não melhora não, seu doente! Pare de beber, cara! Pare de encher o saco dos outros!

Subversivo encarou o Miltão e disse:

- Bebo à minha custa! Não fico pedindo emprego pra político, como você!

Os braços de Miltão voavam no ar à procura de Subversivo. A turma do deixa-disso entrou em ação: segurou o marido com seu orgulho ferido.

Cadê o Subversivo? Acharam-no banheiro, em situação constrangedora. Novamente deu ambulância do Bate Forte.

Faca Amolada, depois de Subversivo ser levado ao pronto-socorro, deu o grito da paz, como forma de quebrar o constrangimento:

- Rodada por conta da casa!

E assim a alegria voltou ao ambiente, nadando em copos cheios.


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