AGENDA CULTURAL

29.11.06

Kit engana trouxa

Hélio Consolaro

Nunca o salário do barnabé foi tão disputado por dois bancos como em 2006. De um lado, o Santander (ex-Banespa); de outro, a Nossa Caixa, banco estatal do governo do Estado de São Paulo.

A Nossa Caixa criou uma boataria em 2006. Até janeiro de 2007, o funcionário que não transferisse a conta do ex-Banespa para uma de suas agências, ficaria sem pagamento. Fazia parte do contrato da privatização do Banespa. O que parecia longe chegou... 2007 está aí!

Imagine, caro leitor, o desespero de um funcionário público com a ameaça de ficar sem a sua menstruação mensal. E todos foram para a Caixa em revoada. Este croniqueiro resistia.

O Banco Central soltou uma portaria dizendo que o empregado tem o direito de escolher em que banco quer o salário, porque é uma sacanagem o que as empresas fazem com seus funcionários. Elas negociam facilidades com os bancos, e nessa negociação entram as contas de todos os funcionários de “porteira fechada”, sem nenhuma consulta prévia.

E este croniqueiro resistia. Não vou pra Nossa Caixa. E eu recebia telefonemas todos os dias: “Venha tomar um cafezinho com a gente”; “Agora estamos na Apeoesp, apareça!”. E até apelaram: “Sou leitora assídua de Entrelinhas...” E eu? Nem aí! Que corram atrás de minha miserinha...

O último telefonema foi fatal:

- Estamos indo à sua casa, o senhor pode nos receber?

Claro, e com cafezinho. Não sou sem-educação a tal ponto. E vieram duas mulheres, ou melhor, mulherões. Balzaquianas fogosas, como escreveu Heitor Gomes, O Poeta das Multidões. Aí, caro leitor, percebi como cronista comete injustiça. As economiárias não são feias como já andei escrevendo nesta coluna. Deus não pergunta para as meninas quando nascem se elas querem ser bonitas ou funcionárias das Caixas Econômicas. Que injustiça!

Nesta semana, recebo um “kit engana trouxa” do Santander com dois biscoitinhos numa lata minúscula, uma carteira para talão de cheque, um porta-cartões, um chaveiro e quatro envelopes de chá de camomila.

Claro, um agrado para que o barnabé leia pelo menos as propostas do banco, mas, como este croniqueiro é debochado, virou mesmo “kit engana trouxa”.

As coisas estão melhorando, porque antigamente pobre nem sabia o que era ter conta em banco, os banqueiros faziam o maior pouco caso de nossos minguados salários. Éramos um peso pra eles! Para fazer empréstimo, precisava ter média boa de saldo na conta corrente.

E que venham as bugigangas do Santander, porque sei que os bancos me assaltam mensalmente. Pensam que somos índios, nos trocamos por espelhinhos. E somos mesmo. Optei pelo" kit engana trouxa" da Nossa Caixa.

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